28/03/08

Uma rua chamada Castro Laboreiro

Naquela que é não só a maior cidade das três Américas, mas também de todo o hemisfério sul e, ainda, quarta maior cidade do planeta, existe uma rua, uma pequena rua de nome insólito.
A cidade chama-se São Paulo e a rua chama-se "Rua de Castro Laboreiro" e fica situada no sudoeste da imensa área metropolitana, mais concretamente no Distrito de Jardim Ângela na Sub-Prefeitura de M’Boi Mirim (frase indígena que significa “pequenas cobras”). Convém ter presente que São Paulo está administrativamente dividido em trinta e uma Sub-Prefeituras e que cada Sub-Prefeitura se subdivide em Distritos e estes podem ainda subdividir-se em Sub-Distritos.







Claro que vocês, tal como me aconteceu, vão logo pensar, romanticamente, que quem deu o nome a esta ruazita das periferias de São Paulo, foi um nosso conterrâneo emigrado na grande cidade brasileira. Vão ou não vão?
Pois estão enganados! Não foi nada disso! Eu vou tentar explicar:
No início da década de 70 do século passado, a cidade de São Paulo encontrava-se num processo de rápido e exponencial crescimento, sendo que, por isso mesmo, as zonas rurais circundantes iam sendo gradualmente ocupadas por gente vinda de todo o Brasil que, tal como falenas sequiosas de luz, procuravam a grande cidade em busca de melhores condições de vida. Ora, tal estado de coisas teve por consequência a proliferação de novas vias e arruamentos completamente clandestinos e sem qualquer tipo de identificação.
O problema já era velho, uma vez que desde o início do século XX, a Prefeitura de São Paulo, se via, ciclicamente, na contingência de ter de oficializar em massa e através de Decretos e Actos genéricos, um sem número de vias, loteamentos e logradouros que iam despontando de forma cada vez mais assídua pelos arrabaldes da cidade. Contudo, no início dos anos 70, a situação raiava o caos e, por isso mesmo, o Município teve de adoptar medidas firmes sob pena de perder o controlo efectivo desse aspecto tão importante para a autoridade pública que é o poder de atribuir uma identificação toponímica aos arruamentos.
Foi assim que, em 1975, a Prefeitura de São Paulo criou dois grupos de trabalho com vista à implementação de um sistema célere e eficaz que permitisse “batizar” as novas ruas que, tal como cogumelos, iam brotando na cintura da cidade em permanente expansão.
O fruto do trabalho desses dois grupos foi uma Base Informática de Dados denominada BANCO DE NOMES, finalizado e implementado em 1977. O BANCO era composto por 25.000 «(…) sugestões registadas electronicamente pela PRODAM (Companhia de Processamento de Dados do Município) em fichas individuais. Cada uma delas trazia a sugestão (nome proposto) a sua explicação ou histórico, bem como as fontes de referência. A equipe de consultores escolheu os nomes tendo como base inúmeros temas: América do Sul, Artes Plásticas, Astronomia, Biografias, Botânica, Cinema, Folclore, Geografia Universal, História da Arquitectura, História do Brasil, História da Ciência, História da Dança, História da Igreja, História da Música, História do Paraná, História do Teatro, História Universal, Linguística, Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa, Literatura Universal, Mineralogia, Mitologia, Música, Música Popular Brasileira, Nobiliarquia, Química, Sociologia, Topónimos e Zoologia». In História das Ruas de São Paulo.
Ora, o mais curioso é que muito provavelmente no tema “Geografia Universal” deste enorme BANCO DE NOMES foi, erroneamente, anotada a sugestão “Castro Laboreiro” como sendo uma serra localizada no norte de Portugal (vejam aqui) e assim em 15/02/1979, por força do Decreto n.º 15.716, uma obscura rua do então Distrito do Socorro, agora Distrito do Jardim Ângela, na megacidade de São Paulo, foi baptizada com nome de Rua de Castro Laboreiro.
Portanto, caros conterrâneos, quando forem a São Paulo não deixem de visitar a Rua de Castro Laboreiro! Convém, contudo, que adoptem algumas precauções! É que o Distrito do Jardim Ângela, onde se situa a nossa Rua, foi considerado pela ONU, em 1996, a zona urbana mais violenta do planeta! Portanto já sabem! Se não arranjarem uma dúzia de guarda-costas convenientemente armados, levem, pelo menos, um “jasteiro” do tamanho do do falecido “Garroleiro”! Isto para além da máquina fotográfica (descartável! é claro!)!

3 comentários:

M. disse...

Muito interessante!! :) Nunca tinha ouvi falar dessa rua em São Paulo..

fotógrafa disse...

Um fds,cheio de alegria e com muito descanso!
abraço

fotógrafa disse...

Pára e admira calmamente
tudo aquilo que te rodeia.
Sem contemplação,
a vida é uma mera existência.

Bom fim de semana
abraço