29/10/07
As perdizes
12/10/07
Quando tomavit dominus rex Castellum de Laborario
Afonso VII de Leão
Saliente-se que, antes deste Pacto, tais terras, pertencentes à Condessa Teresa de Leão, passaram a pertencer, por sucessão, ao seu filho Afonso Henriques que, por isso e ainda pela adesão voluntária de parte da nobreza galega e também pela força das armas, se tinha tornado o senhor absoluto de todo o sul da Galiza, nomeadamente das províncias de Toronho e Límia (região do vale do Lima, sensivelmente situada, entre Ponte de Lima e Ourense), suserano dos condes galegos Gomes Nunes e Rodrigo Peres; vencedor da batalha de Cerneja e senhor da cidade de Tui.
Furioso com o primo irrequieto, o Imperador ordena a invasão do Minho e consequentemente, o Castelo de Laboreiro (de capital importância estratégica por se situar entre os vales dos dois rios, dominando os, então, chamados Montes de Laboreiro) é tomado pelos Leoneses capitaneadas provavelmente pelo Conde Galego Fernando Anes (Enes), Alcaide de Allariz.
Afonso Henriques, com aquela inquebrantável energia e visão estratégica que o haveriam de tornar num dos mais temidos senhores da guerra Europeus do Séc XII, não se fica! E, provavelmente, em 1140, cercou e retomou o Castelo de Laboreiro devolvendo-o ao domínio do, então e apenas auto-proclamado, Reino de Portugal.
Na altura o Castelo deveria ser uma velha fortaleza roqueira assente sobre as ruínas de uma povoação fundada, algures, na idade do ferro. Fortaleza esta que terá sido, eventualmente, restaurada entre o Sec. IX e o Séc. X, quando esteve sob o domínio da família Mendo, Mendes ou Menendez, a quem as terras dos Montes Laboreiro, juntamente com a região de Bubal e maior parte da região da Límia, foram doadas por Afonso III, o Magno, Rei das Astúrias, de Leão e da Galiza (866-910) e entre outras coisas, conquistador das cidades do Porto e de Coimbra.
Com efeito tais terras foram doadas ao Conde do Porto e Tuy, Hermenegildo Mendo, como prémio pela vitória alcançada contra o Conde Galego Witiza, ou Guicia, que revoltando-se contra Afonso III, delas se tinha apoderado. Convém ter presente que a lenda atribui ao neto do Conde Hermenegildo Mendo, o famoso São Rosendo (personagem incontornável da Gallecia do Sec. X), a fundação ou a refundação do Castelo de Laboreiro, isto muito embora não existam fontes documentais conhecidas que atestem, inequivocamente, esta possibilidade.
Para levar a bom porto o cerco do Castelo de Laboreiro, Afonso Henriques, careceu do apoio da nobreza e do clero da região. E tal apoio foi-lhe dado! Designadamente, a abadessa do mosteiro de São Salvador de Paderne, Elvira Serrazins ou Serracine, contribuiu com dez éguas e respectivas crias; 30 moios de vinho (para animar a soldadesca sedenta, digo eu!); um magnífico cavalo avaliado em 500 soldos e ainda cem áureos.
Agradecido, Afonso Henriques, em 16 de Abril de 1141, concede uma carta de couto ao mosteiro de São Salvador de Paderne. Esta carta, que conta já com a bonita idade de 866 anos, e é a mais antiga referência documental conhecida sobre Castro Laboreiro, ou pelo menos sobre o seu castelo, reza assim, na parte que nos importa:
«(…) isttum fretium et servitium fuit datum quando tomavit dominus rex Castellum de Laborario».
Ou seja:
«Este valor e este serviço foram prestados quando o Senhor Rei tomou o Castelo de Laboreiro».
E assim, como diz o ilustre e criterioso historiador Castrejo, Padre Manuel António Bernardo Pintor (Ribeiro de Cima, 1911 – Monção, 1996): «Este castelo em ruínas tem a subida honra de ter experimentado a bravura indómita do primeiro rei de Portugal que nos deixou o primeiro testemunho histórico da sua existência.»
Bibliografia:
ALMEIDA, Carlos A. Brochado de – “A Couraça nova da Vila de Melgaço; Resultado de uma intervenção arqueológica na Praça da República”; Portvgália, nova série, 2003
AMARAL, Diogo Freitas do – “D. Afonso Henriques – Biografia”. Bertrand Editora; 3.ª Edição-2000.
DOMINGUES, José – “O Foral de D. Afonso Henriques a Castro Laboreiro, “adito” para o debate”; Núcleo de Estudos e pesquisa dos Montes Laboreiro, 2003.
DOMINGUES, José – “O Direito de padroado da igreja de Castro Laboreiro na Idade Média”, Boletim Cultural de Melgaço, Câmara Municipal de Melgaço, 2002.
PINTOR; Manuel António Bernardo – “Castro Laboreiro e os seus Forais”, separata de Bracara Augusta, vol. XVIII-XIX, n,º 41-42, Braga, 1965.
PINTOR; Manuel António Bernardo –“ O Recontro de Val-de-Vez. Onde foi?, Braga, 1977.
RODRIGUES, Teresa de Jesus –“D. Afonso Henriques e o Alto Minho”, Revista de Guimarães, n.º 106, 1996.
TEJEDO, Manuel Carriedo – “XI Centenário de San Rosendo (907-2007); Patrono de Mondoñedo-Ferrol e Símbolo de Galicia”; Nuevas, 2007.
04/10/07
No "renque"
Apesar destes modernismos bacocos, há um poema famoso de Alberto Caeiro (pseudónimo de Fernando Pessoa) que imortaliza a palavra "Renque". Chama-se “Um Renque de Árvores” e reza assim:
Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta.
Mas o que é um renque de árvores? Há árvores apenas.
Renque e o plural árvores não são cousas, são nomes.
Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de cousa a cousa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!
Em Castro Laboreiro, o “Renque” é um sítio informal, onde costumeiramente os Castrejos se encontram (se alinham!) nos seus momentos de ócio ou a caminho dos seus afazeres quotidianos e, prazenteiramente, se demoram a pôr as novidades em dia, falando do tempo, da agricultura ou de qualquer outra novidade mundana que os traga intrigados. Embora com conotações bem mais modestas, é algo assim como o “Largo” dos alentejanos tão bem descrito e caracterizado por Manuel da Fonseca na sua obra intitulada o “Fogo e as Cinzas”.
Eis aqui esta preciosa fotografia onde se vê Castrejos autênticos num Renque autêntico:Autor: Phoenix Ocean
Fonte: Flickr