31/12/08

Recomeça...


Recomeça….

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga

Boas Entradas
FELIZ ANO NOVO

30/12/08

Terra frigidíssima de neves


Em 1706, no seu "Corografia portugueza, e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal", diz o Padre António Carvalho da Costa sobre Castro Laboreiro:
«Da Vila de Castro Laboreiro,
Duas léguas e meia de Melgaço entre o Nascente e o Meio-Dia está a Vila de Castro Laboreiro, a que vulgarmente chamam Castro.
É terra montuosa e frigidíssima de neves, seus ordinários frutos são centeio e pouco milho miúdo, muitos gados de toda a casta, as maiores ovelhas Galegas e que dão o melhor burel de todo o Portugal, e assim os melhores lacticínios produzidos dos férteis pastos de hervagens, que aqueles montes tem no Verão, a caça de coelhos, lebres, perdizes, javalis, corças, & “veaçaõ” de lobos, raposas, martas, tourões, ginetas e outros bichos é infinita, e em um pequeno regato grande quantidade de trutas. Não tem outras árvores senão poucos e pequenos carvalhos, bastantes nabos, menos couves Galegas, frias e delgadas águas.
Tem os moradores grandes privilégios, que lhes concederam os nossos reis em remuneração dos grandes serviços que lhes fizeram nos tempos das guerras destes Reinos. Governa-se por Câmara de dois Juízes Ordinários, que também servem nos Órfãos, dois Vereadores e Procurador do Concelho, eleição trienal do Povo e Pelouro a que preside o Ouvidor da de Barcelos e dois Tabeliões que servem em tudo.
Tem em rocha viva um inexpugnável castelo que uns dizem ser obra dos Mouros; outros que levantando-se na Galiza um Conde chamado Vitiza, Utiza ou Guicia contra El Rei Dom Afonso o Magno terceiro em número, mandou conquista-lo por Hermenegildo, Conde das Cidades do Porto e Tui, seu parente e Mordomo, o qual o venceu e lho trouxe preso, pelo que El Rei lhe deu as terras do traidor e entre elas a Vila de Lima, aonde depois seu neto São Rosendo fundou o Mosteiro de Cela Nova e este Monte Laboreiro, em que seu bisneto Dom Sancho Nunes de Barbosa, cunhado Del Rei Dom Afonso Henriques, fundou este Castelo, que se assim foi, seria em oposição das guerras que com o Reino de Leão tivemos. Mas pelos nomes de Castro e Laboreiro, que derivados do latim querem dizer “Castelo Trabalhoso” ou que está em terra trabalhosa, como esta o é para o trato humano, me parece ser do tempo dos romanos; e que seja mais antigo que El Rei Dom Afonso Henriques não há dúvida, pois ele o conquistou com um duro cerco, como se vê de uma Doação ao Couto de Paderne, (…), por onde atribuir-se esta fábrica a El Rei Dom Dinis seria mais reedificação que edifício. Consta de uma torre que pouco antes que os “paisanos” o entregassem aos Galegos voou com o incêndio que um raio causou dando no armazém da pólvora, que sempre o Céu ameaça as últimas ruínas com sinais antecedentes à nossa prevenção. E tem uma muralha tosca com duas portas, uma para o Poente, pela qual se pode ir a cavalo e outra para o Norte, por onde mal pode uma pessoa ir a pé. Vinte homens bastam para o defenderem de grandes exércitos mas é quase incapaz de habitar-se.
A um tiro de arcabuz para o Norte está a Vila em sítio plano, que terá setenta vizinhos, da qual é Senhor o Duque de Bragança, que dá os ofícios. Tem o termo uma Freguesia que é a seguinte.
Santa Maria de Castro, formosa igreja, foi Vigararia anexa à Matriz de Ponte de Lima, passou a Abadia dos Bispos de Tui, quando o eram também destas terras, trocou-a por outras o Bispo Dom João Fernandes de Sotomayor com El Rei Dom Dinis no ano de 1308. E hoje é Comenda da Ordem de Cristo e Reitoria com quarenta mil reis, ao todo cento e vinte mil reis e ordenado para o Coadjutor, e para a Comenda duzentos e cinquenta mil reis, tudo “data” dos Duques. Tem duzentos e vinte vizinhos de que se forma uma Companhia mui alentada.
Entre as mais Ermidas que tem à uma de Nossa Senhora de Anamão, imagem milagrosa, que está num vale junto à raia, metida nuns grandes penhascos, onde foi achada no buraco que a natureza obrou num monstruoso penedo. Dizem que a trouxeram por vezes à Igreja mas que outras tantas se tornou e por isso ali lhe fizeram a Ermida.
Na chão tão “dilstada” que terá cinco ou seis léguas de circunferência, nasce o pequeno rio em que se criam as trutas, no qual há uma pequena ponte que chamam Pedrinha, fábrica de Mouros.
Quando vamos do Porto dos Asnos ou dos Cavaleiros, passamos outro limitado ribeiro pelo qual foi a pé o Santo Arcebispo Dom Frei Bartolomeu dos Mártires a visitar aquela Igreja. Tem virtude esta água para curar a boca “lixosa” das crianças e outras enfermidades. Então disse que tarde ali tornaria outro Arcebispo e assim foi, porque “suposto” o intentou Dom Sebastião de Matos e Noronha e não o conseguiu e só em nossos tempos o fez o Eminentíssimo Cardeal Dom Veríssimo de Lancastre, nosso Inquisidor Geral quando era Arcebispo de Braga.
Para prova da frialdade da terra “baste”, que o vinho se congela no Inverno de modo que para a Missa é necessário aquece-lo, do que se tivera notícia não se admiraria o Aragonês Vitrian nas notas a Filipe de Comines (…) de o cortarem com escopro e martelo junto a Liége no exército de Carlos o Bravo, Duque de Borgonha no ano de 1468, porque como Aragão é terra quente, parecia-lhe que todo o mundo assim devia ser.»
Esta descrição corográfica é a mais antiga que conheço sobre a nossa terra e serviu de base a várias outras, posteriormente elaboradas. Tem várias curiosidades e algumas informações interessantes sobre o Castelo e até sobre uma visita que o famoso e ilustre Frei Bartolomeu dos Mártires terá efectuado à nossa terra, o que terá acontecido algures entre 1559-1581, período temporal em que o dito prelado foi Arcebispo Primaz de Braga.
Curiosa é também a referência ao vinho que congela no inverno "de modo que para a missa é necessário aquece-lo"!
Algo que estranho nesta descrição é a falta de referência ao Cão de Castro Laboreiro, pois tudo leva crer que já nesta longínqua era (finais do séc. XVII, inícios do Séc. XVIII), o raça já fosse conhecida e se destacasse como um dos "produtos" mais distintos de Castro Laboreiro!?

21/12/08

Hoje a noite é jovem...

Houve um deslumbrante poeta brasileiro chamado Vinicius de Moraes que um dia escreveu o mais belo poema de Natal. Aqui vai ele, acompanhado com os meus sinceros votos de Feliz Natal para todos; sobretudo para os meus conterrâneos castrejos, os que estão em Castro e os que se encontram na diáspora, espalhados por esse mundo de Deus.



«Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.»

Feliz Natal Meus Amigos

16/12/08

Que horas son ...?

Manu Chau

Brooklin 2006

15/12/08

Dardejando


Tenho andado arredio deste meu blog. Os motivos são pessoais! A vida tem-me pregado umas estranhas e tristes partidas e por isso, os meus níveis de motivação e de optimismo tem andado pelas ruas da amargura. Daí ter "hibernado" como bem disse o meu amigo Eira-Velha!

Hoje porém, constatei algo que me deixou sensibilizado e que não posso deixar passar em branco! A minha querida conterrânea, autora do Blog Torrada e Meia de Leite, a quem desde já agradeço, alvejou este meu Blog com o "Prémio Dardos".
Com certeza que já todos o conhecem, mas nunca é demais recomendar o "Torrada e Meia de Leite", uma vez que se trata de um Blog bem esgalhado, cheio de reflexões originais e interessantes e, sobretudo, de magníficos textos sobre Castro Laboreiro, escritos pela autora, que são de uma beleza e de uma poesia límpida e enternecedora. Vejam este por exemplo! Ou estes!
Quanto ao dito "Prémio" constato que se trata de uma iniciativa interessante que permite criar cadeias de divulgação de "Blogs", sendo que, com isto, mais e mais pessoas, bloguistas ou não, podem expandir o seu conhecimento, bem como a sua capacidade de intervenção na "blogosfera", de forma a acrescentar e desenvolver aquilo que realmente singulariza toda e qualquer realização humana: - A criatividade única e intransmissível que caracteriza, duma forma mais ou menos intensa, cada um de nós.
E assim, cumprindo as regras do dito Prémio, aqui vão os meus dardos:
E pronto! Lá vou eu! Até mais ver!

06/10/08

Smile

Nesta cinzenta segunda-feira, nada melhor para enfrentar a semana do que o sorriso que o pequeno poeta vagabundo nos legou.

Thank you Charlie.

26/09/08

O regresso do guerreiro

O Laurindo, um bom e velho amigo trasmontano de Vila Real, ligou-me outro dia dizendo-me: - "Eh pá tens de vir cá cima passar o fim-de semana (na geografia simbólica dos transmontanos, Trás-Os-Montes fica sempre acima do resto do país, não há maneira de os convencer que o Alto-minho fica ainda mais para cima!) porque em Boticas vai haver uma coisa que te interessa: - Uma exposição sobre guerreiros castrejos!".

Não fosse por isso! Uma ida ao "Reino Maravilhoso" (Miguel Torga dixit) é sempre uma viagem que não carece de pretexto algum e assim lá disse ao "grande" Laurindo que contasse comigo!

Depois, lá me pus à procura de informações na net sobre a dita exposição e assim fui descobrindo umas coisas curiosas.

Vejam lá que, ao que se sabe, no princípio do Sec. XVIII uma equipa de arqueólogos descobriu no Castro do Lesenho, que actualmente se situa na freguesia de Boticas, duas estátuas de guerreiros castrejos, datadas da 2.ª Idade do Ferro (algures entre o ano 1000 ANTES DE CRISTO e o início da colonização romana). Logo os diligentes arqueólogos se encarregaram de as levar para Lisboa para nunca mais as devolverem ao seu local de origem! Tais estátuas nomeadamente a que se encontra íntegra (uma vez que a outra se encontra decapitada) vieram a tornar-se um dos ex-libris da Arqueologia portuguesa e integram actualmente o espólio do Museu Nacional de Arqueologia.



Pois é este velho guerreiro que vai regressar temporariamente à sua terra para efeitos da Exposição "Guerreiros Castrejos", que se trata de uma iniciativa conjunta entre o dito Museu e a Câmara Municipal de Boticas, iniciativa esta que prevê ainda um Colóquio Internacional designado "Deuses e Heróis nas Alturas do Barroso".
A Exposição, para além do famoso guerreiro castrejo de Boticas terá igualmente a presença dos não menos famosos guerreiros sentados que foram cedidos pelo Museu Arqueolóxico Provincial de Ourense (É! Estes não estão em Madrid! Estão mesmo na terra deles!). Para além disso, estará igualmente em exibição um guerreiro proveniente da grande Citânia de Sanfins, amavelmente cedido pela Câmara Municipal de Paços de Ferreira.
Segundo se lê no site da Câmara Municipal de Boticas, será a primeira vez que se reunirá, numa exposição, um tão apreciável número de guerreiros castrejos, isto para além de outras peças como são as estátuas dos varrões tão típicas da Idade do Ferro no território trasmontano (v.g. a famosa Porca de Murça).
Pois vou mesmo passar o fim-de semana a Boticas, para dar boas vindas ao velho guerreiro. Isto com uma secreta mágoa de não ser possível, pelo menos para já, fazer-se em Castro Laboreiro algo parecido! Por exemplo uma Exposição sobre a Cultura Megalítica! Mas não perco a esperança! Um primeiro passo pode ter sido dado aqui!

A visita do Arcebispo

Há precisamente 217 anos um Arcebispo de Braga visitou Castro Laboreiro e deixou escrita uma descrição da nossa terra, no mínimo curiosa. Vejam aqui se estiverem interessados.

23/09/08

O Outono sem comentários



Música: Antonio Vivaldi - As Quatro Estações - O Outono (1.º andamento).

Intérprete: Nigel Kennedy e a English Chamber Orchestra (1989)

16/09/08

O "bailhe" da festa do Rodeiro



Grande "bailharico" este ano na Festa do Rodeiro! Parabéns minha gente! A Senhora dos Remédios até bateu o pézinho de satisfeita ao ver-vos "bailhar" esta caninha "berde".

Este ano "non" me calhou bem! Mas "pró" ano "non" falto!

Parabéns também ao AnDie4960 pelo filminho!

09/09/08

Investimento


Tal como por aqui se diz, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade está a gerir e a distribuir um orçamento de 2,7 milhões de euros a aplicar nas áreas protegidas da região norte.

Pelo que na notícia se lê, uns quantos euros serão aplicados em Castro, designadamente na reabilitação da "Casa de Dorna" e no apoio e protecção do cão de Castro Laboreiro.

Fico feliz e espero que tudo funcione como deve ser, porque em Castro, quer seja muito ou pouco, quando "vem por bem" é sempre bem vindo.

08/09/08

O cigano belga e o latino francês



Ouçam estes dois! O latino era francês, filho de italianos e um mestre do violino "Jazz"! Chamava-se Stéphane Grapelli (1908-1997). Já o cigano era Belga! Chamava-se Django Reinhardt (1910-1953) e foi um guitarrista realmente extraordinário e ainda hoje absolutamente inimitável (olhem bem para os dedos mínimo e anelar da mão esquerda do homem e verão que pura e simplesmente não tem falanges)!

Resta só dizer que o Jazz europeu nunca mais foi o mesmo depois destes dois, quanto mais não seja por terem fundado em 1934 o "Quintette du Hot Club de France" que aqui ouvimos neste filmezinho pescado nas profundezas desse mar repleto de pequenas pérolas (e também de muito lodo) da cultura e da civilização humana, que se chama: - You Tube!...

03/09/08

Eu e este!

Não foi assim tão fácil como vos parece! Não foi não senhor! Tive que lhe gabar o lencinho azul na lapela para que se dignasse a escolher-me!

Não importa! Apesar desse pequeno "quid pro quod", desconfio que nos "imos" dar muito bem! Afinal basta olhar para os nosso "frontespícios" para se concluir que ambos somos uns tipos ferozmente simpáticos!

06/08/08

Agosto lá p'ra riba

“Estube" uns dias lá riba minha gente!

A terrinha continua linda como sempre! O estio não vai muito quente nem muito frio, ou melhor, tanto lhe dá p’ró calor como p’ró frio! De resto vê-se pouca gente. Sobretudo poucos imigrantes! Será da crise?

Este último domingo foi a festa das Cainheiras: A Senhora da Boa-Vista. Há uns anos atrás era uma das principais festas da freguesia! Agora limita-se a ser mais um acontecimento tradicional que só importa às boas gentes das Cainheiras e pouco mais! Esta coisa das velhas festas da freguesia para as novas gerações é assunto cuja cogitação não merece sequer uma milésima do seu precioso tempo! Pena! Muita pena! São justamente estes acontecimentos tradicionais e a forma como os vivemos ou como os deveríamos viver que, afinal, nos singularizam e nos distinguem enquanto comunidade.

Disso. Dessa singularidade tão nossa e tão malbaratada, percebe o Núcleo de Estudos e Pesquisas dos Montes Laboreiro que nos próximos dias 15 e 16 de Agosto irá organizar o VII Congresso da História Local. A não perder…

Também no dia 15 deste mês a Associação Portuguesa do Cão de Castro Laboreiro irá organizar mais uma edição, a 58.ª, daquele que é o Concurso de Canicultura mais antigo de Portugal: - O Concurso Tradicional do Cão de Castro Laboreiro. A primeira edição foi em 1914.

Entretanto, já no próximo fim de semana (8 a 10 de Agosto) temos a Festa da Cultura em Melgaço evento no qual e como não podia deixar de ser, Castro Laboreiro e a sua cultura surgem em múltiplas e variadas manifestações (a começar pelo cartaz publicitário criado com base numa fotografia obtida no interior do velho e ilustre Castelo do Laboreiro).

Por isso em verdade vos digo: -Neste mês podem e devem, ir a gosto lá p’ra riba, pois “hai” muito que fazer “é” que ver!

“Ala”! Encontramo-nos lá riba “é” botamos-lhe um “cacharrinho”. A primeira rodada "pago-vo-la" eu!

25/07/08

Num chão frio...frio...

À falta de tempo para escrever sobre a nossa terra (isto tem andado complicado por causa da aproximação das férias!) apresento-vos a este senhor que aqui canta e que na passada sexta-feira deu um dos seus, cada vez mais raros, concertos ao vivo em Milão no Teatro Degli Arcimboldi. Chama-se Tom Waits, faz parte da banda sonora da minha vida, e é um génio! Músico, actor (é lendária a sua performance no Bram Stoker's Dracula de Francis Ford Copolla!) e último poeta "beatnick" vivo, descendente em linha directa do "Rei" Jack Kerouac!

Faz parte do meu imaginário da América, da grande América, da América criativa, humanista, tolerante e libertária, não desta pequena América belicista e arruaceira que o Sr. Bush e os seus sicários têm imposto ao Mundo nos últimos anos.

God Bless ... Tom Waits

God Bless America ... Land of the free... Home of the brave ....

18/07/08

Crónica da restauração do Pelourinho de Castro Laboreiro

Entre os muitos e meritórios serviços que o falecido Padre Aníbal Rodrigues prestou à nossa terra, distingue-se a restauração do velho Pelourinho de Castro Laboreiro. Eis aqui o relato dessa façanha, publicado pelo próprio Senhor Abade, nos Cadernos Vianenses, Edição do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Tomo II, 2.ª Edição, 1979, págs. 22 a 25:
«(…) Embora Castro Laboreiro fosse erecta Vila e sede de concelho por foral concedido por D. Afonso III, em 1271, o que correspondia ao direito de pelourinho, o actual monumento, desta antiga Vila, data de 1560, tendo-lhe sido concedido novo foral por D. Manuel I em 1513. Constituído por três degraus, uma base, fuste, gola e capitel, rematado por pequena pirâmide, presidiu aos destinos desta região desde 1560 a 1860, data na qual foi apeado do seu legítimo lugar e dispersos todos os seus elementos para naquele local se construir uma casa particular.
Os degraus desapareceram para sempre, não havendo possibilidade da sua recuperação. A base consegui descobri-la a fazer parte do muro de um quinteiro.


O fuste encontrei-o a servir de lintel ou padieira na chaminé da casa construída onde ele se encontrava antes de ser destruído. Preocupado com a sua restauração continuei sempre em investigações para descobrir o seu capitel. Depois de numerosas pesquisas, fui encontrá-lo a servir de óculo de luz numa casa em ruínas, a uns trezentos metros num muro dobrado e de alvenaria irregular. Facilitou-me o seu reconhecimento o facto de ser trabalhado a pico fino e de ter a gola circular voltada para fora. Somente em 1978 me foi possível desmontá-lo do respectivo muro com auxílio dos pedreiros reconstrutores das muralhas do castelo. Depois do mesmo se encontrar no solo pude averiguar que era verdadeiramente o capitel do antigo pelourinho de Castro Laboreiro, pelo facto de na face interior ostentar uma gola circular com a espessura de 5 centímetros aproximadamente; e na superior um rebaixe de uns 4 centímetros, onde poisava a pirâmide que rematava este pelourinho. Não me foi possível descobrir a pequena pirâmide.


Os trabalhos de investigação para reunir os três elementos desta preciosa relíquia do passado, prolongaram-se durante vinte e quatro anos. Mas como saber o estilo e forma deste pelourinho para a total identificação dos seus elementos e sua restauração?

Mercê dos trabalhos de investigação do estudante Soeiro de Carvalho no Arquivo Distrital de Viana do Castelo, conseguiu descobrir-se um esboço muito perfeito deste pelourinho, efectuado pelo Sr. Coronel Fernando Barreiras, em Julho de 1917, data em que fez uma visita de estudo a Castro Laboreiro; e que servindo-se das preciosas informações do Castrejo Sr. Melchior Gonçalves, que ajudara a desmontar e destruir este antigo pelourinho em 1860, conseguiu com muita precisão representar a lápis este monumento no artístico esboço de todas as peças constitutivas do mesmo, descrevendo com bastante aproximação as respectivas medidas de cada um dos seus elementos (...).

Foi com esse referido esboço e memória descritiva de todas as peças de que este monumento constava que consegui levar a Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais do Norte a reconhecer como autênticos todos os elementos descobertos podendo solicitar àquela entidade a sua imediata restauração.


Quero manifestar publicamente o meu sincero agradecimento a todos os donos das propriedades urbanas, onde as peças em referência se encontravam, pela cedência voluntária das mesmas. Não posso deixar de expressar, como filho de Castro Laboreiro e humilde estudioso destes monumentos, raízes desta região, o meu eterno agradecimento aos meus estimados amigos, Sr. Dr. Oliveira e Silva, digníssimo Governador Civil de Viana do Castelo; ao Sr. Eng.º José Maria Moreira da Silva, digníssimo Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês; ao Sr. Arquitecto Roberto Leão, do Planeamento do Porto; ao Sr. Professor Carlos Alves, digníssimo Presidente da Câmara Municipal de Melgaço, e ao Sr. Adelino Esteves digníssimo Presidente da Junta de Freguesia de Castro Laboreiro, por todo o auxílio e apoio que tiveram a bondade de me dispensar, patrocinando uns, a sua imediata restauração; e outros, além do seu contacto com as entidades responsáveis, a oferta do seu auxílio pecuniário. Bem hajam por todo o interesse que me concederam. A imediata restauração de tão belo e histórico monumento será a recompensa bem merecida de todos estes auxílios e trabalhos a bem da cultura nacional, que tão precisada anda de trabalhos de tamanha monta.
Castro Laboreiro, 10 de Fevereiro de 1979»

Vinte e quatro anos durou a odisseia da restauração do Pelourinho quinhentista do velho concelho de Castro Laboreiro. Grande Padre Aníbal! Como disse o Aquilino Ribeiro, remoçando o velho provérbio português: - «Alcança quem não cansa»!

16/07/08

Bocanegra




Aqui está o último representante da nobre linhagem dos bocasnegras.

Trata-se de um carro conceptual da Seat apresentado no Salão de Genebra 2008. Pelos vistos parece que vai ser produzido em série!

Quero um!

10/07/08

O Carteiro de Castro Laboreiro


“O” Carteiro de Castro Laboreiro foi e, enquanto perdurar a sua memória, há-de sempre ser o saudoso Nelo “Picota”.
Pessoa extremamente simpática, amável e dotado de um peculiar sentido de humor, o Nelo fartou-se de calcorrear a freguesia a entregar as novidades e as cartinhas vindas, sobretudo, da França e que traziam, como ainda hoje trazem, os cheques das reformas tão duramente conquistadas pelos nossos conterrâneos que esfolaram os lombos desde a mais tenra idade naquele país, fugindo à álgida avareza desta nossa querida terra.
O Nelo para além de ser “O” Carteiro também era "O" Sacristão e “braço direito” do Senhor Abade, coadjuvado, nestes ofícios, pela “Lissa”, sua irmã que ainda hoje, após o triste decesso do Nelo, exerce, competente e valorosamente, a nobre e piedosa função de ser a “Sacristã” da Igreja de Santa Maria de Castro Laboreiro. Fenómeno raro este da “Lissa” ser “Sacristã”! Não devem haver muitas mulheres, na cristandade, a exercer tais funções! Por isso sejam discretos e não se ponham a espalhar por aí a notícia de tal fenómeno, isto porque se a coisa chega a Roma nunca se sabe o que poderá acontecer!?
Dizia eu que o saudoso Nelo “Picota” foi, e enquanto a sua memória perdurar, há-de ser “O” Carteiro de Castro Laboreiro. Bom! Convém desde logo que se saiba que isto de ser o Carteiro de Castro Laboreiro, como de uma qualquer outra terra esquecida nos confins desta tão maltratada Pátria, não é uma profissão qualquer! Não é não senhor! Não se trata de um mero e rotineiro funcionário que ciclicamente vai pelas ruas a enfiar sobrescritos em caixas de correio! Não é como o carteiro da cidade que, se casualmente encontramos, nos merece este fugaz pensamento: -“Ah! É o carteiro!” E não lhe ligamos nenhuma, porque afinal é só um tipo que está ali a cumprir uma tarefa que no nosso íntimo, bem lá nas obscuras profundezas do nosso íntimo, consideramos desagradavelmente subserviente! Ser Carteiro em Castro Laboreiro é coisa absolutamente diversa!
Se não acreditam vejam estas fotografias da autoria do Pedro Vilela, de seu pseudónimo Dexter! Trata-se de uma reportagem fotográfica composta pelo autor que, num frio e chuvoso dia de Primavera, acompanhou efectivamente o actual Carteiro de Castro Laboreiro no cumprimento das suas obrigações profissionais. São fotografias magníficas onde a estranha simbiose entre autenticidade e o intimismo nos revelam um Castro Laboreiro deslumbrantemente belo e digno na sua altiva e despretensiosa solidão.
Apresento aqui o meu protesto de gratidão ao Pedro Vilela e, principalmente, aos Carteiros de Castro Laboreiro, de hoje e de sempre!

04/07/08

Castro Megalítico



No passado dia 13/06/2007, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, e a Câmara Municipal de Melgaço, formalizaram junto da Direcção Regional da Cultura a proposta de classificação dos Monumentos Megalíticos e Arte Rupestre do Planalto de Castro Laboreiro. Leiam aqui.

Vamos ver se é desta que, finalmente, uma das maiores riquezas culturais e patrimoniais de Castro Laboreiro é revalorizada, preservada e potenciada, ou seja, vamos lá ver se, por fim, alguém olha como deve ser para o que resta da grande necrópole megalítica situada no planalto castrejo.

Um grande "bem hajam" para o ICN e para a Câmara Municipal de Melgaço, que mais uma vez demonstra o cuidado, o esmero e a preocupação com que nas últimas décadas tem tratado Castro Laboreiro.

Sobre este assunto leiam também (aqui) o magnífico comentário do Núcleo de Estudos e Pesquisas dos Montes Laboreiro.

03/07/08

Castro Laboreiro, 1826


«CASTRO LABOREIRO, Villa R. Portugal, prov. Entre Duero y Miño, comarca de Barcelos; parroquia, cabeza de la encomienda de la órden de Cristo. Su vecindario asciende a 436 fuegos y 1,495 habitantes. En lo mas elevado de las montañas que separan esta provincia del reino de Galicia, y de la de Traz-los-Montes, está esta villa a 2,5 leguas al S.E. de Melgazo. Es pais muy frio e fragoso, de donde dicen los autores portugueses, que le viene el nombre de Laboreiro. Su castillo está situado em peña viva, y rodeado de una muralla sencilla con 2 puertas.. En una terra tan áspero y frio, no es de admirar que sus productos esten reducidos á poco cent., mijo y nabos, pero lo que le falta en granos, lo resarce en gado lanar, particularmente churro de la mejor casta, de cuya lana hacen escelente buriel que es la industria de sus moradores. Los árboles son igualmente poco frequentes, y los que hay que se reducen a pequeños robles de mala especie. Sus montes abundan de todo género de salvagina, y unos arroyos que passan por su término, en escelentes truchas.»
in: DICCIONARIO GEOGRAFICO-ESTADISTICO DE ESPAÑA E PORTUGAL, Sebastian de Miñano; Madrid 1826.
Um panorama desolador! Salvam-se os nabos, o "mijo", o gado lanar, as "truchas" e, claro, a abundante "salvagina"!

27/06/08

Primeiro Aniversário


Faz hoje exactamente um ano que iniciei este "longínquo" Blog sobre Castro Laboreiro.

Decorrido um ano a intenção mantém-se: - Falar de Castro, divulgar Castro, acarinhar Castro! Isto apesar de algumas derivas intimistas que não tive o bom gosto de conter!

Julgo que o esforço tem valido a pena. As mais de 6000 visitas ao Blog durante este último ano assim o parecem demonstrar! Mas mesmo que assim não fosse, mesmo que só fossem seis, sessenta ou seiscentas, teria valido a pena porque o prazer que tenho retirado desta realização tem sido imenso e ainda porque, como dizia o outro: - "A alma (de Castro Laboreiro, diria eu!) não é pequena!"

Agradeço a todos os visitantes que passaram e passam por aqui, mas sobretudo aos meus amigos Eira-Velha e Fotógrafa, que, tantas e tantas vezes, com os seus comentários tem impedido que me sinta um pregador no deserto!

De resto, garanto que, com ou sem deserto, vou continuar "até que a voz me doa"! E esta noite vou beber uma "champanhada" por conta do "Longe..." e à vossa saúde!

Abraços para todos.

19/06/08

Trajo de Noiva


«A saia era feita de tecido xadrez, da Covilhã. Chegava a ter dois metros de largura e o comprimento ia até ao tornozelo. A beira da saia era debruada com uma fita de lã preta, à qual se seguia uma barra de um palmo de veludilho preto e cima desta uma tira de cetim da mesma cor. A barra de veludo era contornada com um fitilho de lantejoulas e vidrilhos.
A blusa era de castorina de cor escura. apertava à frente com botões e a manga era comprida. Por cima levava um peitilho em renda.
Algumas noivas, nem todas, vestiam um casaco de casimira ou saragoça preta, cujo comprimento não chegava bem à cinta. Aplicava-se-lhe também como guarnição uma tira de veludilho à volta e outra na ponta das mangas.
O "mandil" também preto, ou era de cetim com barra de veludo, ou de veludo com barra de cetim.
Na cabeça levavam as noivas um lenço de seda que, segundo a opinião da nossa informadora, era lindo: dourado, florido com franjas a toda a volta . Atavam as duas pontas sob o queixo.
Usavam ainda um xaile de casimira preta com barras às cores de larga franja tecida. O xaile era simplesmente posto sobre os ombros, sem ser traçado.
A saia, que usavam por baixo, era de linho e enfeitada com rendas e entremeios de crochet.
Ao pescoço, as noivas traziam um cordão de ouro com 3 ou 4 voltas, oferecido pelo noivo. Uma das voltas deste cordão passava por vezes debaixo do braço.
No dia da boda as noivas usavam sapatos.
(...)
Segundo informações que nos foram prestadas, o primeiro casamento que se realizou na "Vila" com noiva à moda da cidade, isto é, sem ser à moda da terra, data de há 12 anos atrás. Depois deste, o hábito pegou de forma radical e hoje já ninguém leva o trajo tradicional.
Sobre a quebra de tal costume, uma jovem na casa dos 19 anos, ainda solteira, deplorava que o tradicional trajo de noiva tivesse sido preterido por outro tão incaracterístico e a todos os títulos mernos belo. Acalentava o sonho de ir vestida, se o namorado a isso não se opusesse, como as noivas antigas da sua terra, porque, segundo a sua opinião, a modernização não devia destruir o que de belo havia na vida da sua gente. Era uma moça inteligente, que tinha noções concretas e muito bem concertadas sobre o valor da cultura tradicional e do que havia de secundário e essencial nela.»

Alice Geraldes: CASTRO LABOREIRO E SOAJO - Habitação, vestuário e trabalho da mulher; Edição do Serviço Nacional de Parque, Reservas e Património Paisagístico, Lisboa 1979

A Professora Alice Duarte Geraldes, que foi durante muitos anos docente da Universidade do Minho na área da Sociologia e da Antropologia é uma das cientistas sociais portuguesas que mais estudou a sociedade castreja nos seus vários aspectos: - Sociológicos, antropológicos etc... O seu trabalho desenvolvido em Castro Laboreiro em finais da década de 70 do século passado é por isso uma referência incontornável para quem pretenda ter uma visão minimamente consistente da sociedade castreja não só dessa década mas também das décadas anteriores.

Lembro-me de ter tido o prazer de a conhecer pessoalmente, era eu um miúdo de cerca de 12 ou 13 anos. Recordo-me de uma pessoa extremamente calma, simpática e afável, sentada num escano da nossa casa velha a ouvir as velhas estórias da minha avó enquanto a ajudava com o fuso e com a roca, desfazendo-lhe os nós da lã a ser fiada. A Professora Alice era e ainda é uma a pessoa muito querida para todos os castrejos que se lembram dela.

O texto que acima publico foi retirada de uma das suas obras fundamentais sobre Castro Laboreiro, publicada em 1979 "CASTRO LABOREIRO E SOAJO - Habitação, Vestuário e Trabalho da Mulher". Este texto para além de ser a único documento que conheço onde consta uma descrição do velho trajo das noivas Castrejas, tem também a particularidade de conter a preciosa informação sobre a época em que tal trajo foi substituído pelo "trajo da cidade", ou seja pelos modernos vestidos de noiva. Sobre isto refere a Professora Alice que segundo informações que lhe foram prestadas tal transformação se terá dado "há 12 anos atrás" ou seja por volta de 1967.

13/06/08

Pessoa a 120 anos por hora


«Como podia eu tornar-me superior à força do dinheiro?
O processo mais simples era afastar-me da esfera da sua influência, isto é, da civilização; ir para um campo comer raízes e beber água das nascentes; andar nu e viver como um animal. Mas isto, mesmo que não houvesse dificuldade em fazê-lo, não era combater uma ficção social; não era mesmo combater: era fugir. Realmente, quem se esquiva a travar um combate não é derrotado nele. Mas moralmente é derrotado, porque não se bateu.
O processo tinha que ser outro - um processo de combate e não de fuga. Como subjugar o dinheiro combatendo-o? Como furtar-me à sua influência e tirania, não evitando o seu encontro?
O processo era só um - adquiri-lo, adquiri-lo em quantidade bastante para lhe não sentir a influência; e em quanto mais quantidade o adquirisse, tanto mais livre eu estaria dessa influência.
Foi quando vi isto claramente, com toda a força da minha convicção de anarquista, e toda a minha lógica de homem lúcido, que entrei na fase actual - a comercial e bancária, meu amigo - do meu anarquismo».
O meu "Pessoa" de estimação foi desde sempre, e há-de continuar a ser, o "desassossegado" Bernardo Soares, mas, verdade seja dita: - O "Banqueiro Anarquista" nunca abandonou a minha mesinha de cabeceira desde que nos conhecemos! E isto já lá vai há um valente par de anos!
A velha nota de cem escudos é a suprema ironia!?

12/06/08

As Mulheres de Castro Laboreiro


«No tempo em que os portugueses disputavam com os castelhanos as terras do Alto-Minho, um exército lusitano, composto por quinze mil homens, batalha os galegos nas margens do Minho. De tal forma era bem sucedido o seu empenho, que chegam a provar o delicioso sabor da vitória. Ébrios deste prazer, julgam-se senhores do mundo. Com entusiasmo desmesurado, aventuram-se por terras da Galiza, alucinados de bravura, dispostos a bater o inimigo em sua própria casa. Mas tal esforço não lhes corre de feição, já que, depois de curtíssimas vitórias, os lusos são obrigados a retroceder, ante o vigor do adversário, espicaçado pela vaidade nacional ferida, e supridos de tropas frescas.
Vindo os galegos no encalço, os portugueses, desorientados, recuam lá para os lados de Castro Laboreiro. Acossados pelo enfurecido inimigo, pronto a corrigir a desfeita sofrida, as tropas portuguesas não encontram forma de o enfrentar, temendo-se uma ultrajante derrota e o risco de perda da soberania dos próprios territórios!
É então que as mulheres daquele lugar, ao verem os seus desnorteados, e perante a afronta desmesurada dos galegos, corajosas e determinadas, resolvem intervir. E se os homens fogem desorganizados e abandonando as armas, elas, depois de se armarem como os guerreiros, cerram fileiras e avançam sem medo, prontas a salvar o país da ignomínia de uma humilhante derrota.
Perante tal atitude e coragem ficam extasiados e confusos, por sua parte, os castelhanos. É então que os homens lusitanos, provocados pelo exemplo de suas mulheres, resolvem voltar para a luta, envergonhados das suas momentâneas pusilanimidade e defecção. Recuperada a energia e a fé indispensáveis, organizam-se e batem os espanhóis, ainda perplexos pela coragem e força das mulheres de Castro Laboreiro. Esta batalha ficou conhecida por “Empresa das Mulheres”.»
Esta é mais uma das narrativas lendárias publicadas pelo Professor António Campêlo na obra que anteriormente referi. Sobre ela diz-nos o ilustre Professor que: «Esta lenda foi recolhida em Melgaço e encontra-se também referenciada nas monografias locais. Em Castro Laboreiro existe uma tradição oral de que uma mulher, em luta com os castelhanos, de um só golpe degolou sete espanhóis! Perante o poderio do inimigo, é sempre a mulher, na aparente fraqueza do seu género, a ditar o rumo da contenda! A lenda chama a esta batalha “Empresa das Mulheres”. Veja-se que a lenda da Inês Negra fica conhecida nas crónicas com a designação de “Escaramuça entre duas mulheres bravas».

04/06/08

A "belhota"

Eu já tinha ouvido falar dela! Já outros pescadores me tinham dito que a “belhota” vivia há anos nos “Poços” abaixo das “Andorinhas”! Inclusive, já uma vez ou outra eu próprio tinha divisado a sua silhueta pesada e escura a esquivar-se logo que a minha sombra tangia as águas límpidas do rio.
Naquele fim de tarde, lá vinha eu, estourado e com as pernas escavacadas por um dia de pesca que começara manhã cedo no “Salto do Gato”, e ainda por cima desanimado e encharcado pelos resultados: - Uma magra meia dúzia de exemplares de medida que me tinham custado 3 amostras e dois tombos a todo o comprido nas águas frias do Laboreiro. No entanto, quando me aproximei do “Poço” onde residia a “belhota”, uma centelha de ânimo circumnavegou o meu pobre e cansado espírito! Aquele tipo de centelha de ânimo que só os verdadeiros pescadores de trutas conseguem sentir e discernir! Aquela vontade imperscrutável de lutar, de vencer e de colher o ser mais magnificamente instintivo que habita as águas generosas e fecundas do nosso rio.
Lá me aproximei, contra a corrente conforme mandam os cânones, o mais silenciosa e pacientemente que pude e, de forma pausada e comedida, consegui colocar-me numa zona escondida pela sombra de um esplendoroso salgueiral, o que me permitiu observar tranquilamente o rio. Naquele ponto, a água, revolta e voluntariosa, impulsionada pelos vários “cachons” a montante, corria velozmente pelo centro do “Poço” estreito e “acanhonado”, mas nas margens existiam pequenas áreas remansosas onde por certo àquela hora se encontrariam, fartas e gordas, as “pintalgadas” após um aprazível dia a degustar as iguarias trazidas pelas águas.
O primeiro lançamento descreveu uma parábola perfeita e a pequena amostra, uma clássica “Celta n.º 1” esverdeada, caiu cerca de 20 a 25 metros de distância, sob a margem esquerda, logo abaixo do movimentado “cachon” que encimava o “Poço”. Com três ou quatro voltas do carreto consegui trazê-la para a zona remansosa e aí imprimi um movimento lento e constante ao carreto, para que a amostra pudesse desenvolver as suas rotações com a maior estabilidade possível.
De repente, quando a amostra saída do “remanso” atravessava a correnteza do centro do “Poço”, um violento esticão denunciou que uma truta a tinha abocanhado e por isso, acto contínuo, levantei de sacão a ponteira da cana enquanto com um golpe do carreto tentei dar duas ou três rápidas e consistentes voltas por forma a ferrar a “pintona”. Tentei! Porque a resistência que encontrei foi de tal ordem que rapidamente desisti, temente da integridade do fio (uns 100 metros de “Mitchell” n.º 20), bem como do restante equipamento!
Um sobressalto percorreu as minhas fibras mais recônditas! Seria que por qualquer manhoso acaso do destino eu tinha fisgado a velha truta!? Respirei fundo! Toda a gente sabe que um sistema nervoso alterado é o pior inimigo do pescador de trutas. Lembrei-me que em casos como este a solução é abrir a asa do carreto, de forma a, controladamente, “dar fio” à truta com o objectivo de a cansar!
Assim fiz, e a truta, qual torpedo, desembestou para montante na direcção da margem esquerda dando com isso início a uma luta titânica pela sua preciosa vida. Eu lá me fui segurando, ora largando fio, ora puxando fio, enquanto o pobre bicho tentava esquadrinhar o “Poço” em busca de salvação. A luta durou cerca de dois minutos, dois minutos e meio, uma vez que a partir de determinada altura a truta deixou de oferecer resistência e assim, pouco a pouco consegui trazê-la na minha direcção com o intuito de a apanhar, uma vez que tira-la de “sacão” estava fora de questão dado que, muito provavelmente, a ponteira da cana não iria resistir.
Debrucei-me, então, e pude constatar que se tratava de um exemplar magnífico que deveria rondar os 45 cm de comprimento, e que tinha a amostra cravada unicamente na mandíbula inferior, o que aliás se revelou fatal para a minha pretensão, pois que a truta, até aí aparentemente apática, logo que lhe descravei a amostra deu um magnífico impulso, torceu-se no ar e mergulhou no poço, livre e pujante de vida. O mais curioso e rísivel é que ao desenvolver, com sucesso, estes movimentos inesperados, a bicha, enquanto eu esbracejava a tentar segura-la, “sorregou-me” uma valente chapada na cara com a barbatana traseira que, apesar de não me ter magoado o corpo, me magoou profundamente o espírito! E, assim, lá fiquei eu aturdido, de mãos a abanar e com uma estranha sensação de vazio que me custou muito a digerir enquanto subia, estafado e desanimado, pelo caminho dos moinhos em direcção à “Ponte Belha” e à "Bila".
Hoje, a duas décadas de distância e muitas trutas depois, ainda me lembro bem da “belhota” que naquele dia foi suficientemente esperta e valente para me escapar, mas, conforme seria de esperar, já não sinto qualquer tipo de sensação de vazio ou decepção, pelo contrário, sinto um imenso e estranho carinho por aquela bela truta, que não sei se chegou a ser pescada por alguém (espero que não!). Um carinho que abarca, para além das trutas do nosso rio, todos os seres silvestres que habitam a nossa maravilhosa terra.

31/05/08

Melancolia nórdica

Sigur Ros - Samskeity

Ando assim um tanto ou quanto melancólico! Só podem ser saudades de Castro Laboreiro!

23/05/08

O beijo da mulher serpente (continuação)


" (...) Em tempos mais recentes, um jovem, ao saber, por um pastor, da existência da serpente, logo se lembrou da sua terrível história de amor. A mãe da sua namorada contrariava muito seriamente o namoro e afeição que a filha mantinha com ele, facto que os obrigava a encon­trarem-se às escondidas por entre as penedias. Não tardou muito que a mãe desse com o esconderijo dos namorados e, desesperada com a desobediência da filha, lhe lançasse esta maldição:
- «Que de futuro andes de rastos como as cobras no alto do Quinjo».
Passados dias, desapareceu a rapariga sem deixar rasto!
Associando os factos, não restaram dúvidas ao rapaz de que se tratava da namorada que cumpria o fado a que fora condenada pela mãe. A confirmá-lo, lá estava a flor que ele lhe oferecera e que ela, numa atitude garrida, trazia entre os dentes no momento em que recebera a maldição.
Desesperado pela triste sorte da jovem e também pela sua infe­licidade, subiu ao monte e perguntou à serpente quais as possibilidades que havia de lhe quebrar o encanto. Respondeu-lhe esta que bastaria que ele, rapaz, tivesse a coragem de a beijar na boca. Mas, cautela, se à terceira tentativa o não conseguisse, redobraria o seu encanto e não mais podia trazê-la à vida e ao seu amor.
Voltou o rapaz mais tarde, acompanhado com gente amiga, para realizar o desencanto: porém, na altura em que se aproximou da serpente, esta lançou tais silvos e contorceu-se de tal maneira que pôs em fuga todos os que presenciavam a cena. Não desistiu o namorado e, na segunda tentativa, fez-se acompanhar de um padre, para ajudar o ritual com as suas rezas, e, esquecido do que havia acontecido aos outros seus conterrâneos, de um ceguinho que, pelo facto de não ver, poderia substitui-lo no acto de beijar a serpente com menos repugnância. Repe­tiu-se a cena anterior e tanto o padre como o cego fugiram desaus­tinados.
Entendeu o rapaz que teria que ser ele sozinho, e sem a ajuda ou apoio de ninguém, mas amparado pelo amor que nutria pela jovem, a cumprir o feito. Enchendo-se de coragem, aproximou-se da serpente e, sem dificuldade de maior, deu-lhe o beijo, recebendo em troca nos seus braços a namorada. Regressaram felizes a Ribeiro de Baixo, seu lugar de nascimento, e casaram mais tarde na vila”.
Sobre esta lenda e outras congêneres como as das "Mouras" encantadas diz-nos António Câmpelo na obra indicada no "post" anterior: - "A moura-serpente transporta-nos para o encantamento original, que tem a ver com o fado a que está condenada a serpe, ela mesma um espírito das águas subterrâneas. Água e cabelos deambulam sem forma, ao sabor de intenções que lhes são estranhas. Ao solicitar o beijo para a libertar do encanto, a moura apela para o beijo como sopro de vida, e não o beijo amoroso. Este beijo, e a componente oral que lhes está associada, orientam a origem do mundo para um silêncio que se esconde durante um tempo determinado e que, cumprido, se manifesta na vida e no usufruto de todas as riquezas. Não respeitar esse silêncio – segredo – solicitado pela moura, ou introduzir palavras que estão proibidas no ritual de desencantamento, é falhar no resgate da moura amada ou do tesouro desejado".
Tal como também nos diz o Professor Campêlo, Alice Geraldes na sua obra : “ Castro Laboreiro: a mulher na vida e na lenda”, 1978, Mínia, Braga, 2ª Série, 1 (2), pp. 42-64. , também faz menção a esta lenda, traçando uma longa interpretação da mesma, tendo como elemento de análise o género feminino e a transformação dos seus papeis na sociedade de Castro Laboreiro. Segundo esta autora, uma lenda reflectirá a mentalidade mais conservadora e antiga da população, enquanto a versão moderna, a do jovem par de namorados, mostra um novo tipo de enamoramento que supera as diferenças sociais quanto à riqueza.
Ilustração. HR GIGER

15/05/08

O beijo da mulher serpente


“Vivia na montanha do Quinjo, em Castro Laboreiro, uma princesa que tinha sido encantada sob a forma de uma serpente, e que trazia uma flor presa na boca.
Era esta princesa fabulosamente rica e estava disposta a dividir a sua riqueza com quem a desencantasse. Como ia de 100 em 100 anos à feira de Entrimo, em Espanha, altura em que recuperava a sua forma humana, lá contou como deveria proceder a pessoa que estivesse dis­posta a desencantá-la: ir ao Quinjo e dar um beijo à flor que ela, já na forma de cobra, trazia na boca.

Se os séculos foram passando sem que aparecesse alguém sufi­cientemente corajoso para realizar tal façanha, nem por isso se pode dizer que o tempo tenha apagado nos homens a crença no tesouro escon­dido ou tenha esmorecido a fé na sua recuperação, mesmo que para tal se tivesse de cumprir o ritual prescrito pela lenda. A cobiça era senti­mento mais forte que a repugnância e o medo, sem contar ainda que a astúcia humana é de tal forma atrevida e pretensiosa que só por si consegue dar, a quem dela resolva largar mão, uma coragem inicial que na maioria dos casos, se não é condição de sucesso é pelo menos de chegada à última etapa possível.

Foi assim que um dia, levados pela cobiça e apoiados na astúcia, um grupo de homens, tentaram desencantar a princesa. Se o pensaram, logo programaram a aventura, animados pelo facto de um deles conhecer os segredos do livro de S. Cipriano, que ajudaria a tomar o tesouro escondido e defendido pela serpente.

Havia, contudo, uma dificuldade que a todos transtornava e que não viam meio de a superar. Como ganhar coragem para beijar a serpente?
Lembraram-se então os nossos heróis de um cego que havia no lugar e que, pelo facto de não ver, não sentiria repugnância em praticar o acto. Bastante instado, mas sem saber bem ao que ia, o pobre lá anuiu em juntar-se-lhes.
Reunido o grupo no local certo, no dia e hora com­binados, resolveu o animador da proeza, na intenção talvez de melhor avivar os pormenores da façanha, puxar do livro e ler a lenda aos com­panheiros no próprio cenário onde se iria desenrolar o drama. A um dado passo da leitura, porém, fez-se ouvir um barulho medonho que, repercutindo-se pelas fragas adiante, parecia querer fendê-las para delas fazer sair a figura de um monstro.

Nem se interrogaram a respeito do estranho fenómeno: gasta a última reserva de coragem, hei-los numa corrida doida, galgando e des­cendo penedos. na ânsia de alcançar a segurança do lugar onde habitavam que, estra­nho ao facto, recuperava no sono a energia gasta num dia de luta árdua.

Sozinho no alto do Ouinjo, ficou o cego, desprotegido de tudo e de todos, e completamente amedrontado. Valeu-lhe o bordão, seu único apoio e guia, para descobrir forma do chegar a chão seguro e sosse­gado. E chegou, passados uns dias a Pereira, uma pequena povoação espanhola, que lhe deu guarida.

Depois de conhecida a aventura no lugar, nunca mais ninguém daqueles lugares pensou em repetir a proeza.
Continua....."
No início da presente década, Álvaro Campêlo, minhoto nascido em Poiares, Ponte de Lima, Doutorado em Antropologia das Religiões pela Sorbonne e professor de Antropologia Social e Antropologia do Desenvolvimento na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, desenvolveu, enquanto Director do Centro de Estudos de Antropologia Aplicada da Universidade Fernando Pessoa, uma investigação que teve por objecto a recolha de tradições orais do vale do Minho, no campo do fantástico.
Os resultados desta investigação foram publicados na obra “Lendas do Vale do Minho” do mesmo autor, editada em 2002 pela Associação dos Municípios do Vale do Minho. Posteriormente, Álvaro Campêlo publicou ainda no “Boletim Cultural” da Câmara Municipal de Melgaço um estudo chamado “O Discurso do Fantástico no concelho de Melgaço”, onde o ilustre Académico, desenvolve, aprofunda e completa os dados recolhidos no concelho de Melgaço.

Neste estudo encontra-se publicada esta “lenda” ou “conto” recolhida pelo autor em Castro Laboreiro. Dada a sua extensão optei por publicar unicamente a primeira parte, a segunda seguirá em próximo capítulo.
Uma última nota para informar aos que não sabem, que o "Quinjo", ou "Quinxo" é uma imponente montanha sobranceira ao lugar do Ribeiro de Baixo, situada em território Galego na margem esquerda do Rio Laboreiro.
Ilustração: HR GIGER

10/05/08

As Sete Mulheres do Minho

«As sete mulheres do Minho

mulheres de grande valor.

Armadas de fuso e roca

correram com o regedor.

Essa mulher lá do Minho

que da foice fez espada,

há-de ter na lusa história

uma página doirada.

Viva a Maria da Fonte

com as pistolas na mão

para matar os Cabrais

que são falsos à Nação.»

Esta é uma velha cançoneta da música tradicional portuguesa (dos tempos da revolta da "Maria da Fonte" e da "Patuleia" em meados do século XIX) recomposta e musicada pelo Zeca Afonso e aqui interpretada por estas quatro magníficas moças galegas que formam o grupo:" Faltriqueira".

A exuberância e a contagiante alegria da interpretação facilmente nos permitem reconhecer a velha e autêntica paixão que os músicos tradicionalistas galegos sempre dedicaram ao Zeca Afonso e à sua obra!

02/05/08

O Judeu que viveu em Castro Laboreiro


Luís Henriques Julião, filho de Julião Henriques e de Branca Rodrigues, casado com Filipa Dias era natural de Vila Flor e exercia a profissão de mercador em Castro Laboreiro.
A vida até lhe não corria mal de todo, contudo sobre a cabeça incauta do nosso amigo Julião pairava um pesado estigma: - O coitado era “Cristão-Novo” e, assim, num belo dia de (14) Maio de 1656, foi preso à ordem do Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) de Coimbra e acusado da prática do crime de Judaísmo.
A partir daí a vida não foi nada fácil para o nosso Luís Julião, pois “gramou” 4 anos de prisão e, com certeza, algumas saudáveis e revigorantes sessões de tortura, até ser proferida a sentença do seu caso; o que só veio a acontecer em 23/05/1660, sendo que nesse mesmo dia foi realizado o costumeiro Auto de Fé.
Nesse Auto de Fé, o Luís Julião deve ter abjurado a “Fé de Moisés”, sendo que provavelmente e tal como era hábito neste casos, lhe foram impostas determinadas obrigações, tais como:
- Usar hábito penitencial.
- Ir á missa aos domingos e nos dias santos;
- Confessar-se nas 4 festas do ano: - Natal, Páscoa, Espírito Santo e Assunção de Nossa Senhora e comungar se o confessor assim o entendesse;
- Jejuar todos os sábados e rezar o rosário de Nossa Senhora;
-Apartar-se da “gente da nação” e cumprir tudo o que prometeu na abjuração.
Bom! O certo é que o nosso Luís Julião, apesar de tudo acabou por se safar senão com a saúde toda, pelo menos com alguma, visto que nesse mesmo dia 23/05/1660, foi lavrado o, designado, “Termo de Soltura e Segredo”, por via do qual o condenado foi devolvido à liberdade, com a condição de manter o segredo sobre tudo quanto tinha visto ou ouvido no decurso do processo. Esta última condição era de capital importância dada a política de sigilo processual que caracterizava os Tribunais do Santo Ofício, tanto que, no momento em que assinou o tal “Termo”, o bom do Luís Henriques Julião, sabia que se alguma vez lhe desse para abrir o bico, voltava, com toda a certeza, a malhar com os costados nos calabouços da Inquisição.

Desconhece-se se este pobre coitado alguma vez voltou a Castro Laboreiro!
Bibliografia: - A "Inquisição Portuguesa: Tempo, Razão e Circunstância". Autores diversos, coordenação de Luís Filipe Barreto, José Augusto Mourão, Paulo de Assunção, Ana Cristina da Costa Gomes, José Eduardo Franco, Ed. Prefácio, Lisboa - São Paulo, Janeiro de 2007

25/04/08

O nosso menino


Este menino que aqui está é o menino mais velho da Europa!
É tão velhinho, tão velhinho! E no entanto tão parvo e inocente que quando vê metralhadoras tem a inevitável tendência de lhe enfiar coisas lá para dentro: - Flores, poemas, músicas e coisas assim...
O menino, velhinho como é, tem andado adormecido! Mas, de qualquer forma, não se armem em espertos! Se tiverem uma metralhadora, um tanque, uma bazuca ou até uma palavra ou um gesto assassino, apresentem-os ao nosso velho menino porque só ele sabe como é que se enfiam coisas estranhas em sítios esquisitos!

24/04/08

Parabéns à APCCL


A Associação Portuguesa do Cão de Castro Laboreiro (APCCL) fundada em 20/10/2006 e cujos objectivos passam por defender, preservar, promover, divulgar e valorizar a nobre raça de cães da nossa terra, foi formalmente reconhecida como “Clube de Raça”, pelo Clube Português de Canicultura, em sessão da Assembleia Geral deste organismo realizada no passado dia 4 do presente mês.
Trata-se, portanto, de um momento histórico não só para a APCCL mas para Castro Laboreiro, uma vez que finalmente existe uma entidade reconhecida oficialmente que se encarregará (como já se encarrega!) de preservar e defender aquela que é a mais preciosa jóia da nossa terra.
Estão de parabéns os membros e os fundadores da Associação e, por isso mesmo, daqui lhes envio um forte e sincero abraço, sobretudo aos dois grandes dinamizadores deste Projecto: - O “Tóno da Sara” e o “Amêrco do Outeiro”.
Parabéns rapazes! Vocês provaram que é possível a existência de verdadeiro Associativismo em Castro Laboreiro: - O Associativismo que não é feito contra ninguém mas tão só em favor do bem comum, sem descurar os legítimos interesses de cada um!
Aos visitantes deste meu blog recomendo que visitem a página da APCCL, bem como o respectivo blog oficial, e sobretudo que se façam sócios mesmo não possuindo cães da raça, uma vez que os Estatutos da Associação assim o permitem.

16/04/08

Oitocentos e sessenta e sete anos


No dia 16 de Abril de 1141, ou seja há 867 anos, foi produzido o documento que contém a mais antiga referência conhecida ao Castelo do Laboreiro. Se quiserem saber mais pormenores cliquem aqui.

14/04/08

Do Alvarinho e do Fumeiro


A não perder! Vejam aqui o programa das Festas.
E já que vão para aqueles lados aproveitem a oportunidade para darem uma saltada "à alta e livre terra" de Castro Laboreiro. Mas, tal como por aqui se diz: - Não sejam "Alonsos"! Não se misturem com a "carneirada"! Vão de manhã bem cedinho e gozem o inesquecível privilégio de viver uma manhã de Primavera em Castro Laboreiro (contando com o bom tempo!), para além disso evitam as intermináveis e saturantes excursões de turistas que aparecem em Castro por volta da hora do almoço e se estendem pela parte de tarde!
Vão! E depois digam-me qualquer coisinha!
Ah! Bom apetite e, como é óbvio, não se esqueçam de levar "chauffer"!

13/04/08

Emocional câmara lenta.

No outro dia estava eu com dois pacotes de 500 gramas de esparguete em cada mão. Um era da marca “Pingo Doce” outro da marca “Milaneza”. O problema existencial que ocupava o meu espírito era o de tentar descortinar se valia pena comprar o “Milaneza” apesar de o“Pingo Doce” ser substancialmente mais barato e o produto essencialmente igual! Lá estava eu, por isso, a lambuzar-me nas doçuras e subtis dilemas da nossa querida sociedade de consumo, quando de repente, nos roufenhos altifalantes do hipermercado, esta música começou a tocar.


Bom! O meu habitual mau gosto não chega ao ponto de vos confessar que, ao ouvir tal música, tive um “flash” em que contemplei toda minha vida numa emocional câmara lenta! Não! Felizmente não chegou a ser isso! Apenas me bateu uma inesperada nostalgia sobre o alguém que fui no final dos anos 80, início dos anos 90! E, por estúpido ou pretensioso que pareça, pousei os pacotes de esparguete e a restante mercearia e, escondendo a cabeça entre as orelhas, vim para casa procurar a tal música no You Tube.


Agora aqui a deixo, mesmo correndo o risco de que digam que : - “Este gajo, bem quer mas já não é capaz de arranjar mais assuntos para tratar no tal longínquo blog sobre Castro Laboreiro! E, por isso, limita-se a colar uns vídeos que saca do You Tube!”


Digam o que disserem o que é certo é que no dia a seguinte tive que ir outra vez ao hipermercado comprar esparguete e a nostalgia já não foi a propriamente a mesma!

05/04/08

Canário, Augusto!

Sem conservantes e com pouquíssimos corantes, aqui vai o Augusto Canário que descobri no blog deste meu conterrâneo!

Apetecia-me dizer mais qualquer coisa, mas, sinceramente, as palavras fugiram-me! Por isso é melhor "fetchar a matraca" é deixar o Canário tocar e cantar!

Dá-lhe Canário!!!! "Estremece" a alma dos minhotos!!!

28/03/08

Uma rua chamada Castro Laboreiro

Naquela que é não só a maior cidade das três Américas, mas também de todo o hemisfério sul e, ainda, quarta maior cidade do planeta, existe uma rua, uma pequena rua de nome insólito.
A cidade chama-se São Paulo e a rua chama-se "Rua de Castro Laboreiro" e fica situada no sudoeste da imensa área metropolitana, mais concretamente no Distrito de Jardim Ângela na Sub-Prefeitura de M’Boi Mirim (frase indígena que significa “pequenas cobras”). Convém ter presente que São Paulo está administrativamente dividido em trinta e uma Sub-Prefeituras e que cada Sub-Prefeitura se subdivide em Distritos e estes podem ainda subdividir-se em Sub-Distritos.







Claro que vocês, tal como me aconteceu, vão logo pensar, romanticamente, que quem deu o nome a esta ruazita das periferias de São Paulo, foi um nosso conterrâneo emigrado na grande cidade brasileira. Vão ou não vão?
Pois estão enganados! Não foi nada disso! Eu vou tentar explicar:
No início da década de 70 do século passado, a cidade de São Paulo encontrava-se num processo de rápido e exponencial crescimento, sendo que, por isso mesmo, as zonas rurais circundantes iam sendo gradualmente ocupadas por gente vinda de todo o Brasil que, tal como falenas sequiosas de luz, procuravam a grande cidade em busca de melhores condições de vida. Ora, tal estado de coisas teve por consequência a proliferação de novas vias e arruamentos completamente clandestinos e sem qualquer tipo de identificação.
O problema já era velho, uma vez que desde o início do século XX, a Prefeitura de São Paulo, se via, ciclicamente, na contingência de ter de oficializar em massa e através de Decretos e Actos genéricos, um sem número de vias, loteamentos e logradouros que iam despontando de forma cada vez mais assídua pelos arrabaldes da cidade. Contudo, no início dos anos 70, a situação raiava o caos e, por isso mesmo, o Município teve de adoptar medidas firmes sob pena de perder o controlo efectivo desse aspecto tão importante para a autoridade pública que é o poder de atribuir uma identificação toponímica aos arruamentos.
Foi assim que, em 1975, a Prefeitura de São Paulo criou dois grupos de trabalho com vista à implementação de um sistema célere e eficaz que permitisse “batizar” as novas ruas que, tal como cogumelos, iam brotando na cintura da cidade em permanente expansão.
O fruto do trabalho desses dois grupos foi uma Base Informática de Dados denominada BANCO DE NOMES, finalizado e implementado em 1977. O BANCO era composto por 25.000 «(…) sugestões registadas electronicamente pela PRODAM (Companhia de Processamento de Dados do Município) em fichas individuais. Cada uma delas trazia a sugestão (nome proposto) a sua explicação ou histórico, bem como as fontes de referência. A equipe de consultores escolheu os nomes tendo como base inúmeros temas: América do Sul, Artes Plásticas, Astronomia, Biografias, Botânica, Cinema, Folclore, Geografia Universal, História da Arquitectura, História do Brasil, História da Ciência, História da Dança, História da Igreja, História da Música, História do Paraná, História do Teatro, História Universal, Linguística, Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa, Literatura Universal, Mineralogia, Mitologia, Música, Música Popular Brasileira, Nobiliarquia, Química, Sociologia, Topónimos e Zoologia». In História das Ruas de São Paulo.
Ora, o mais curioso é que muito provavelmente no tema “Geografia Universal” deste enorme BANCO DE NOMES foi, erroneamente, anotada a sugestão “Castro Laboreiro” como sendo uma serra localizada no norte de Portugal (vejam aqui) e assim em 15/02/1979, por força do Decreto n.º 15.716, uma obscura rua do então Distrito do Socorro, agora Distrito do Jardim Ângela, na megacidade de São Paulo, foi baptizada com nome de Rua de Castro Laboreiro.
Portanto, caros conterrâneos, quando forem a São Paulo não deixem de visitar a Rua de Castro Laboreiro! Convém, contudo, que adoptem algumas precauções! É que o Distrito do Jardim Ângela, onde se situa a nossa Rua, foi considerado pela ONU, em 1996, a zona urbana mais violenta do planeta! Portanto já sabem! Se não arranjarem uma dúzia de guarda-costas convenientemente armados, levem, pelo menos, um “jasteiro” do tamanho do do falecido “Garroleiro”! Isto para além da máquina fotográfica (descartável! é claro!)!

24/03/08

Adeus Marlene

Não devia ter acontecido, mas infelizmente aconteceu! A Marlene foi encontrada morta no dia 22 de Março à tarde, a poucas centenas de metros a sul do lugar das Coriscadas.

Adeus Marlene. Descansa em paz.

20/03/08

Ajudem a Marlene


Esta rapariga chama-se Marlene Silva da Cunha, tem 34 anos e desapareceu no passado dia 16/03/2008 em Castro Laboreiro.
Infelizmente é uma pessoa doente e precisa urgentemente de ser medicada, por isso, se a encontrarem levem-na sem demora a um Centro de Saúde e contactem estes familiares:
-919581779 Daniel Cunha

-ou 93619998 Sérgio Cunha.
Vejam mais pormenores no Blog Castro Laboreiro.
Ajudem a encontra-la por favor! A Marlene precisa muito da família e a família precisa muito da Marlene!

19/03/08

Santas Páscoas

Santas Páscoas para todos e toca a ir beijar a cruz a Castro.
É comer o cabritinho "tamém"!

E não esquecer: MUITO CUIDADINHO NA ESTRADA!

14/03/08

Um dia do raio!

Castro Laboreiro, 18 de Novembro de 1659

«Aos dezoito dias de Novembro de 1659, que foi uma terça-feira, às nove horas da manhã caiu um raio na Torre do Castelo, que servia de armazém da pólvora e mais munições, o qual raio deu na pólvora e fez a maior ruína que se sabe, pois da Torre e mais partes acessórias não ficou pedra sobre pedra e deste grande prodígio se vê claramente ser grande castigo do céu que Deus mandou castigar pecadores que dentro deste castelo estavam e nesta grande desventura se viram grandes milagres.

O primeiro foi escapar o Governador Gaspar de Faria com a sua mulher e mais família, estando na parte mais arriscada, pois aí removeu a muralha da Torre as suas casas e as fez em pedaços e aí estavam e aí escapou com mais segurança e castigou o que na Ermida não podia ficar pedra sobre pedra pois caiu toda a Torre sobre ela e ficou Nossa Senhora dos Remédios e aí me recolhi, sem cobertura, sem água, ficando debaixo toda a máquina.

Terceiro milagre; - Foi que escapou um Escrivão do Governador debaixo desta ruína, sem avaria e são.

Nesta desventura morreram - Gaspar Lima de Castro; Escrivão das Décimas e Sisas e Treslados; e um mulato seu criado, por seu nome Marcos, natural de Tangil e um miúdo, criado do Governador, por nome de Gaspar de Medela e dois soldados.

Do livro n.º 51, folhas 5. Gaspar de Almeida dos Capitães o fez.»

Esta crónica da destruição da Torre de Menagem do Castelo de Laboreiro em 1659, foi publicada por Alexandra Cerveira Pinto Lima, in Castro Laboreiro – Povoamento e Organização de um Território Serrano, Cadernos Juríz Xurês n.º 1, 1996, pág. 55, nota 38. A transcrição que acima vai publicada é da autoria do Padre Aníbal Rodrigues e consta na sua obra "O CASTELO DE CASTRO LABOREIRO", Separata de ESTUDOS REGIONAIS, Viana do Castelo: Centro de Estudos Regionais. 1996, Vol.17. a pág. 8.

29/02/08

O Castelo segundo o Senhor Abade

Fotografia: pela lente

O falecido Padre Aníbal Rodrigues, familiarmente conhecido em Castro como "O Senhor Abade", foi uma figura incontornável no Castro Laboreiro da segunda metade do Séc XX. Entre os seus muitos méritos enquanto homem e sacerdote, o Senhor Abade dedicou-se à elaboração de pequenos Estudos Monográficos sobre o Património Histórico-Cultural de Castro Laboreiro. Claro que quem tiver o subido privilégio de conhecer tais Estudos e possua alguma bagagem cultural, depressa se aperceberá que ao Padre Aníbal onde lhe faltava o rigor metodológico do cientista social lhe sobrava a paixão ardente pela sua terra e pelas suas gentes! Por isso é que, embora os seus Estudos Históricos não possam, em muitos aspectos, ser considerados como trabalhos cientifícos (ao contrário dos trabalhos de outro sacerdote castrejo - O Padre Bernardo Pintor - , nos quais sobreleva o rigor metodológico do historiador), são, apesar disso, pitorescos e curiosos opúsculos, onde o saudoso Senhor Abade exprimiu todo o Amor que sempre teve à sua terra.


Um destes Estudos designa-se "O CASTELO DE CASTRO LABOREIRO" e consta da Separata de ESTUDOS REGIONAIS, Viana do Castelo: Centro de Estudos Regionais. 1996, Vol.17. Neste Estudo encontra-se um poema do Padre Aníbal que, à parte os méritos literários, ilustra à saciedade o que acima se disse. Passo a citar:


«Castelo, pastor Amigo
Das rezes da velha Grei
Deixa-me falar contigo,
Ouvir coisas que eu não sei.

O teu arnês de guerreiro,
Há quanto tempo o não vejo;
Mudaste-o em pegureiro,
Ou deixaste-o n'algum brejo.

Tua cabeça branquinha,
Parece o lírio do campo,
Inclinada à tardinha
à espera do descanso.

A bela lança d'outrora,
Arrogante e combativa,
Já se oxidou por fora,
Por dentro está combalida.

Teu olhar embaciado,
Quem o há-de conhecer?
Parece o sol nublado,
Pouco antes de morrer.

A tua voz de trovão
Sufocou-se na garganta,
Já não comanda o pelotão,
Não se ouve na Infanta.

A tua face enrugada
Não é dum velho Gigante
Que enfrentou a montanha,
Com aspecto arrogante.

A tua flauta tão linda,
Não se ouve como outrora,
No alto da Cartelinda,
Pelas quebradas em fora,
A chamar as ovelhinas,
Ao sol pôr e vir d'aurora.»

Castro Laboreiro, 12/8/1994