
O falecido Padre Aníbal Rodrigues, familiarmente conhecido em Castro como "O Senhor Abade", foi uma figura incontornável no Castro Laboreiro da segunda metade do Séc XX. Entre os seus muitos méritos enquanto homem e sacerdote, o Senhor Abade dedicou-se à elaboração de pequenos Estudos Monográficos sobre o Património Histórico-Cultural de Castro Laboreiro. Claro que quem tiver o subido privilégio de conhecer tais Estudos e possua alguma bagagem cultural, depressa se aperceberá que ao Padre Aníbal onde lhe faltava o rigor metodológico do cientista social lhe sobrava a paixão ardente pela sua terra e pelas suas gentes! Por isso é que, embora os seus Estudos Históricos não possam, em muitos aspectos, ser considerados como trabalhos cientifícos (ao contrário dos trabalhos de outro sacerdote castrejo - O Padre Bernardo Pintor - , nos quais sobreleva o rigor metodológico do historiador), são, apesar disso, pitorescos e curiosos opúsculos, onde o saudoso Senhor Abade exprimiu todo o Amor que sempre teve à sua terra.
Um destes Estudos designa-se "O CASTELO DE CASTRO LABOREIRO" e consta da Separata de ESTUDOS REGIONAIS, Viana do Castelo: Centro de Estudos Regionais. 1996, Vol.17. Neste Estudo encontra-se um poema do Padre Aníbal que, à parte os méritos literários, ilustra à saciedade o que acima se disse. Passo a citar:
«Castelo, pastor Amigo
Das rezes da velha Grei
Deixa-me falar contigo,
Ouvir coisas que eu não sei.
O teu arnês de guerreiro,
Há quanto tempo o não vejo;
Mudaste-o em pegureiro,
Ou deixaste-o n'algum brejo.
Tua cabeça branquinha,
Parece o lírio do campo,
Inclinada à tardinha
à espera do descanso.
A bela lança d'outrora,
Arrogante e combativa,
Já se oxidou por fora,
Por dentro está combalida.
Teu olhar embaciado,
Quem o há-de conhecer?
Parece o sol nublado,
Pouco antes de morrer.
A tua voz de trovão
Sufocou-se na garganta,
Já não comanda o pelotão,
Não se ouve na Infanta.
A tua face enrugada
Não é dum velho Gigante
Que enfrentou a montanha,
Com aspecto arrogante.
A tua flauta tão linda,
Não se ouve como outrora,
No alto da Cartelinda,
Pelas quebradas em fora,
A chamar as ovelhinas,
Ao sol pôr e vir d'aurora.»
Castro Laboreiro, 12/8/1994