04/05/09

Um ninho de "carriça"


Vasco Granja (1925-2009)

Quando a televisão era um objecto sossegado e bicromático, este senhor, com a sua voz terna e calma, e o sorriso - sábio e amalandrado -, de quem acabou de descobrir um ninho de "carriça", povoou de cores, de sonhos e de fantasia, o território sempre feliz da minha (nossa) infância.
Apesar disso, nunca, nas histéricas e sofregamente consumistas televisões actuais, lhe foi concedida (a ele e aos seus filmezinhos de animação exóticos, polvilhados de mensagens puras, singelas e quase sempre pacifistas) uma milésima de espaço! É! Para os modernos e lucrativos gestores dos canais de televisão nacionais, o pobre do Vasco Granja mais os seus filmes Checos, Canadianos e Polacos, deve ter merecido a mesma consideração que merece um sapato velho e bolorento que deixamos esquecidos nos obscuros confins de um desprezado armário.
Hoje, quando os meus alvoraçados filhotes me sentaram e se enroscaram em mim para ouvirem o conto que todas as noites, antes de irem dormir, lhes leio, a primeira sílaba da primeira palavra da primeira frase, soou estranhamente calma e terna, como se tivesse sido dita por uma criança sábia que acabou de descobrir um ninho de "carriça".

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