27/03/09

A casa que ardeu na primavera

Busco e rebusco, no alforge das nossas vidas, as palavras da nossa infinita e inconsequente tristeza. Mas paro por aí! Aquele velho pudor tão castrejo, aquela singela e tão lapidada nobreza de sentimentos, legada por gerações e gerações de mulheres e homens que fizeram desta terra áspera o seu berço, não deixam, felizmente, que me desdobre em banais e risíveis lamúrias poéticas.

Há, contudo, uma casa que ardeu na primavera. Uma casa de uma nossa "bezinha" das Coriscadas! Uma "bezinha" que não é uma "bezinha" qualquer! É uma respeitada e querida senhora, melhor dito na nossa fala: -uma "Tia", com mais de 70 anos plenos de uma esforçada e sofrida vida.

O que sentirá uma mulher (viúva há muitos, demasiados, anos!) que, de repente, após 70 longos anos, num brutal e estarrecedor incêndio de primavera, vê a casa da sua vida desvanecer-se em faúlhas?

Não sou capaz de saber! Embora consiga imaginar o feroz reflexo das labaredas nos olhos infinitamente tristes desta minha "bezinha", não vejo nem sinto, embora pressinta, a dor perplexa dos despojados. Não o despojo material, pois a esse nível, tenho a absoluta certeza que nada lhe faltará, tendo o filho que tem; mas antes a dor de quem se vê irremediavelmente despojada da suas queridas e insubstituíveis memórias.

Falham-me as palavras. Não me apetece escrever mais!

1 comentário:

fotógrafa disse...

Isto sim, é muito triste...a nossa casa é o nosso refugio e recomeçar depois dos 70 anos...é doloroso!


A serenidade e a alegria
são a luz e o sol
iluminando a vida
fazendo prosperar o que tocam.

Bom fds

abraço