14/02/09

Lulas recheadas à Laboreiro


Ora aqui vai uma receita "mui própria" para o dia dos namorados:
-6 lulas
-75 gr. de manteiga
-2 tomates
-1 ramo de salsa
-2 colheres de pão ralado
-2 colheres de farinha
-1 decilitro de molho espanhol
-1 decilitro de azeite
-1 decilitro de vinho branco
-1 cenoura
-1 limão
-3 cebolas
Pica-se metade das cebolas acima mencionadas e refogam-se no azeite. Em seguida, juntam-se ao refogado o tomate picado, sem peles nem sementes, os tentáculos das lulas (picados), a farinha e o pão. Mexe-se tudo bem e tempera-se com sal e pimenta, devendo ferver por espaço de 5 minutos.
Enchem-se as lulas com este preparo, cosem-se-lhes as aberturas com (...) o resto da cebola e a cenoura cortada às rodelas, folhas de louro, pés de salsa e colocam-se-lhe as lulas em cima (do preparo restante). Picam-se estas com uma agulha para que não rebentem, tapam-se e levam-se a cozer em lume moderado.
Quando as lulas estiverem enxutas, regam-se com vinho branco e molho espanhol e, depois de cozidas, passa-se o molho, no qual se conservam até ao momento de se servirem.
Adiciona-se o sumo de limão acima indicado e, servem-se, dentro de prato coberto, polvilhadas com salsa picada.»
E agora lá vem a sacrossanta pergunta: - O que é que as lulas têm a ver com Castro Laboreiro? Porque "carvalhos" existe uma receita de lulas designada "à laboreiro"?
Eu digo: - A receita embora seja designada "Lulas recheadas à Laboreiro", nada tem a ver com Castro Laboreiro! Nada mesmo! Nem sequer o recheio! Pois nem sequer neste se detecta o mais leve resquício do oloroso e salivante presuntinho ou dos célebres e capitosos fumados da nossa abençoada terra, que por certo lhe ficariam bem!
Então de onde provirá essa inquietante designação: -"(...) à Laboreiro"?
Pois aqui vai, para vossa ilustração, a razão de tal mistério:
Esta receita é da autoria de um famoso "chef" português chamado Manuel Ferreira, que lá para os princípios da década de 30 do século passado, publicou uma obra designada: - «A Cozinha Ideal - Cozinha Pastelaria e Bar».
Nada solene ou intimidatório, o título, como podem ver! É contudo e pelo que pude saber, uma obra, ainda nos dias de hoje, de referência para todos os profissionais portugueses da deliciosa arte (ou pelo menos para os mais cultos!).
Bom! Para esclarecimento do nosso mistério diz-nos o "Chef" Manuel Ferreira, em nota que passo a citar: - «esta receita denominou-a o autor à Laboreiro, em homenagem a uma pessoa que não teve a honra de conhecer pessoalmente, mas que lhe disseram chamar-se Simão Laboreiro. Velho frequentador da Cervejaria Jansen, quando o autor era ali chefe de cozinha, aí pelos anos de 1920 e 1921, desde o dia em que, pela primeira vez, esse cliente comeu as lulas preparadas por este molho, lhes deu a sua preferência, pelo que, sempre que lá voltava, as pedia. Eis a razão por que o autor lhe dedica esta fórmula.»
Ora aqui está: - As lulas nada têm a ver com Castro Laboreiro; contudo, não deixa de ser um belo prato para celebrar o dia dos namorados! "Non bos parece"?
P.S: - O que é engraçado e tem mistério é o sobrenome do senhor Simão! Laboreiro? Só pode ser originário da nossa terra dizem os mais orgulhosos! Calma! Vou investigar e já vos direi algo.

2 comentários:

jorge pandeirada disse...

Olá e parabens por este interessante blog.Ora a receita de lulas à Castro Laboreiro intrigou-me na aula duma formação de cozinha regional portuguesa que estou a frequentar até por achar que algo na receita que não me agradava, assim como um prato de lulas tão longe do mar me intrigou profundamente. Ora, a explicação está dada e grato lhe fico. A sua receita tem pontos de encontro com a que fizemos na aula mas este fim de semana vou fazer esta e depois dar-lhe-ei noticias.

Bocanegra disse...

Fico à espera Jorge! E desejo que tudo corra bem!

Obrigado pelo comentário.