02/05/08

O Judeu que viveu em Castro Laboreiro


Luís Henriques Julião, filho de Julião Henriques e de Branca Rodrigues, casado com Filipa Dias era natural de Vila Flor e exercia a profissão de mercador em Castro Laboreiro.
A vida até lhe não corria mal de todo, contudo sobre a cabeça incauta do nosso amigo Julião pairava um pesado estigma: - O coitado era “Cristão-Novo” e, assim, num belo dia de (14) Maio de 1656, foi preso à ordem do Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) de Coimbra e acusado da prática do crime de Judaísmo.
A partir daí a vida não foi nada fácil para o nosso Luís Julião, pois “gramou” 4 anos de prisão e, com certeza, algumas saudáveis e revigorantes sessões de tortura, até ser proferida a sentença do seu caso; o que só veio a acontecer em 23/05/1660, sendo que nesse mesmo dia foi realizado o costumeiro Auto de Fé.
Nesse Auto de Fé, o Luís Julião deve ter abjurado a “Fé de Moisés”, sendo que provavelmente e tal como era hábito neste casos, lhe foram impostas determinadas obrigações, tais como:
- Usar hábito penitencial.
- Ir á missa aos domingos e nos dias santos;
- Confessar-se nas 4 festas do ano: - Natal, Páscoa, Espírito Santo e Assunção de Nossa Senhora e comungar se o confessor assim o entendesse;
- Jejuar todos os sábados e rezar o rosário de Nossa Senhora;
-Apartar-se da “gente da nação” e cumprir tudo o que prometeu na abjuração.
Bom! O certo é que o nosso Luís Julião, apesar de tudo acabou por se safar senão com a saúde toda, pelo menos com alguma, visto que nesse mesmo dia 23/05/1660, foi lavrado o, designado, “Termo de Soltura e Segredo”, por via do qual o condenado foi devolvido à liberdade, com a condição de manter o segredo sobre tudo quanto tinha visto ou ouvido no decurso do processo. Esta última condição era de capital importância dada a política de sigilo processual que caracterizava os Tribunais do Santo Ofício, tanto que, no momento em que assinou o tal “Termo”, o bom do Luís Henriques Julião, sabia que se alguma vez lhe desse para abrir o bico, voltava, com toda a certeza, a malhar com os costados nos calabouços da Inquisição.

Desconhece-se se este pobre coitado alguma vez voltou a Castro Laboreiro!
Bibliografia: - A "Inquisição Portuguesa: Tempo, Razão e Circunstância". Autores diversos, coordenação de Luís Filipe Barreto, José Augusto Mourão, Paulo de Assunção, Ana Cristina da Costa Gomes, José Eduardo Franco, Ed. Prefácio, Lisboa - São Paulo, Janeiro de 2007

Sem comentários: