21/09/07

Em jeito de homenagem

Deixo aqui este filmezinho em jeito de homenagem às minhas conterrâneas e conterrâneos que deram vida ao extinto Rancho Folclórico de Castro Laboreiro.

Porque não faze-lo renascer? Não era propriamente o melhor Rancho do mundo! mas era o NOSSO Rancho!



(Este vídeo foi colocado no Video Goggle, em 21/11/2006, por autor não identificado)

18/09/07

Fronteiras

É facto consabido que as fronteiras político-administrativas dificilmente coincidem com as fronteiras culturais e linguísticas.A Galiza nesse aspecto é um "case study", tanto no que concerne às suas fronteiras orientais, com as Astúrias e com León (a designada Galiza Irredenta), como no que concerne à sua fronteira meridional, com Portugal (Alto Minho e Trás os-Montes). Aliás, neste último caso, o mesmo se pode dizer se analisarmos a questão do lado português!

O documentário que se segue, realizado por Rúben Pardiñas e divulgado na Televisión de Galicia no dia 25 de Julho de 2007, demonstra precisamente isso e ainda algo de mais importante: - Que as segmentações politíco-territoriais, só por si, são incapazes anular a comunhão cultural e linguística vigente entre os Povos de matriz galaico-portuguesa.

O documentário tem a duração de 57:21m, para os que não tiverem paciência aconselho, pelo menos, que vejam do minuto 43:27m em diante, garanto-vos que não se arrependerão!

14/09/07

O tratorzinho

Era sexta-feira à tarde e, à sombra da velha muralha, a feira de Melgaço fervilhava de actividade. Eu lá andava, de tenda em tenda, a esvoaçar por entre as pernas dos fregueses. Passei sem olhar pela tenda dos sapatos, e mesmo antes de chegar à tenda dos “pitinhos” e dos coelhos, encontrei aquilo que procurava: - A tenda dos brinquedos!

Os meus olhos, deslumbrados, esbugalharam-se! Estavam lá todos aqueles que interessavam. Os camiões, os carrinhos, as espingardinhas de bareta e, sobretudo, aquele que me trazia cobiçoso desde que o tinha visto nas mãos enlameadas do meu vizinho, com que brincava às tardes, depois da escola: - Um tratorzinho com carroça e tudo.

Fitei-o sem saber se lhe havia ou não de tocar! Olhei para o dono da tenda e este lançou-me um despreocupado e convidativo olhar azul. Não resisti! Sentei-me no chão, peguei-o e comecei a roda-lo por uma vereda imaginária, tendo o máximo cuidado para fazer bem as curvas, de modo a que a carroça, carregada de lenha, não se virasse.

- “Larga isso filho”. Troou a voz da minha mãe, rasgando a nuvem translúcida da minha fantasia.

- “Mas Mãe é igualzinho àquele que eu queria”. Disseram os meus olhos subitamente húmidos.

- “Non pode ser! É mui caro!” Disse implacavelmente a minha mãe em tom de fim de conversa.

-“Dá-lho mulher, dá-lho! Ca mais bale um gosto na bida do ca cem bombos na hora da morte”. Disse a voz meiga e cansada da minha avó.

O tratorzinho já há muito tempo que não existe, perdi-o nalguma recôndita vereda da vida, mas há-de sempre existir o sorriso doce e maternal da minha falecida avó, enquanto os meus beijos felizes lhe orvalhavam o rosto agreste.

11/09/07

No dia que t’eu nõ bêjo, meus olhos são duas fontes

JOSÉ LEITE DE VASCONCELOS (Ucanha, 07/07/1858 - Lisboa, 17/05/1941), de quem já tive a oportunidade de vos falar no “post” intitulado Conversa Castreja I, é considerado o “pai” da Antropologia portuguesa moderna. Ora, este eminente cientista social português, publicou em 1916 no volume XIX, a págs. 270 a 280, da Revista Lusitana (da qual foi fundador) um texto designado “Excursão a Castro-Laboreiro”, cujo primeiro parágrafo passo a citar:

«Em 1904, estando a veranear nas Agoas do Peso, fiz uma excursão a Castro-Laboreiro em companhia do Rev.º Manoel José Domingues, Abbade de Melgaço. A excursão foi muito breve. Partimos num dia de manhã e voltamos no dia seguinte depois do almoço. Tomei porém algumas notas ethnographicas e dialectologicas que poderão ter utilidade para os estudiosos; e por isso aqui as publico, pouco mais ou menos na mesma fórma em que as tomei».

Seguem-se a descrição da “Excursão”, bem como as notas, apontamentos e reflexões do cientista, às quais, provavelmente, voltarei em “posts” futuros, uma vez que o que agora me interessa é publicar umas curiosas amostras de poesia popular coligidas em Castro pelo Mestre Leite de Vasconcelos e que se encontram a págs 277 e 278.

Ora aqui vai:

Adeus, ó bila de Crasto,
As costas lh’eu bou birando,
Im que lh’eu as costas bire,
Meu coraçom bai chorando.

Adeus, ó bila d’Acastro,
Probência de Tras-os-montes,
No dia que t’eu nõ bêjo,
Meus olhos são duas fontes (1)

Adeus, ó terra de Crasto
As costas te bou birar,
Bou para o bal de Chabes (2)
Donde m’eu bou desterrar.

Fita berde no chapéu
Meu amor, nõ lh’a ponhais,
Dá-lh’o bento abole, abole…
E eu côido que m’açanais!

Heid’ amar o cordom berde,
Im quanto tiber berdura,
Hei-d’amar a quem quijer
Q’inda nõ fije scritura.

Neste lenço deposito
Lágrimas que por ti choro
Por nõ poder alcançar
Os braços de quem adoro

Esses teus lindos olhos
Som cadeias de bom ferro,
Prisões que me a mim sigurã…
Eu outras já as nõ quero.

Alfaite, guarda a filha,
Nõ na ponhas na jenela,
Os soldados da marinha
Nõ tirã os olhos dela.

Alfaites nõ som homes,
Nem se lhes póde chamar,
Quando pérdim uma agulha,
Logo se põ a chorar!

(1) Variante insciente de uma cantiga aplicada a Vila-Real de Trás-os-Montes.
(2) Vale de Chaves»

E pronto! Tirando os Alfaites(!) penso que toda a gente gostará de conhecer esta cantiguinhas que se cantavam na nossa Terra nos finais do Século XIX, princípios do Século XX

06/09/07

Rio Minho na Jamaica?

Esta não é sobre Castro Laboreiro, mas é tão curiosa que não resisto a contar-vos:

Sabem que existe um rio na Jamaica chamado Rio Minho? Pois é verdade! E para além do mais tem 92,5 Km de extensão (bastante menos que o nosso Rio Minho que tem 342 Km) o que faz dele o maior curso de água doce daquela ilha caribenha!




A azul: Curso aproximado do Rio Minho na Jamaica


E por obra de quem um rio na Jamaica se chama Rio Minho? Perguntam vocês com toda a razão!

É fácil de responder: - Por obra dos Espanhóis, isto porque a Jamaica foi uma colónia espanhola desde a sua descoberta por Cristóvão Colombo em 1494, até ser conquistada pelos Ingleses em 1655. Mas o que é sobremaneira curioso é o facto da grafia correctada palavra ser “Minho”, portanto na versão portuguesa, e não “Miño” como seria na versão castelhana da palavra! Há com toda a certeza uma explicação para isso, contudo não tive habilidade suficiente para a descobrir! Outra curiosidade é que a designação oficial do Rio é mesmo “Rio Minho” e não “River Minho” ou sequer “Rio Minho River”, o que é estranho se atentarmos ao facto de a Jamaica ser um país anglófono.

Já agora ficam também saber que a bela Jamaica, para além de ser a pátria dos inesquecíveis Bob Marley e Peter Tosh, do Reaggae e da religião e cultura Rastafari é a terceira maior ilha do Arquipélago das Caraíbas e é uma nação independente desde o dia 6 de Agosto de 1962. O seu actual sistema de governo é a Democracia Parlamentar e é, como quase todas as ex-colónias inglesas, um membro da Commonwealth of Nations. Para além disso importa saber que sua capital actual é a cidade de Kingston, que sucedeu a Port Royale e Spanish Town, as duas antigas capitais coloniais da Jamaica.


Espero que tenham gostado desta pequena excursão ao Rio Minho e à esplendorosa ilha da Jamaica, eu, agora, fico “prá aqui” a trautear a mais luminosa e optimista canção do grande e saudoso Marley (com quem JAH deve, seguramente, fumar uns valentíssimos charros, enquanto ensaia uns passinhos de Reaggae):

Baby don’t, worry,
about a thing,
‘cause every little thing,
is gonna be all right…

04/09/07

O Tomás das Quingostas

O Boaventura Eira-Velha, ilustre Cavenquense e autor do magnífico Blog Memórias…, num comentário ao “post” Conversa Castreja V diz-nos que embora não haja documentação que claramente o comprove é mais do que provável que tenha existido o Tomás das Quingostas, que terá sido uma figura equiparável ao famoso Zé do Telhado, ou seja uma espécie de Robin dos Bosques à portuguesa. Bom, a coisa deixou-me curioso e decidi fazer uma pequena investigação para tentar descobrir mais alguma coisa sobre este mítico bandoleiro raiano.

Ora, o que de mais significativo fiquei a saber foi da publicação recente (Edição de Autor) de um romance histórico com base nesta personagem, intitulado “ O Tomás das Quingostas” da autoria de José Alfredo Cerdeira.

Fiquei ainda a saber que no passado dia 11 de Agosto, no âmbito do 6.º Congresso de História Local, organizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas dos Montes Laboreiro, foi efectuada uma apresentação deste romance por parte do seu autor e que, para além disso, também no âmbito deste Congresso, Joaquim Rocha dissertou sobre a “Vida de Tomás das Quingostas”. Lamentavelmente não estive presente nesta manifestação cultural, porque não tenho qualquer dúvida tanto do interesse do romance como da mencionada dissertação.

Resta contudo a possibilidade de adquirir o Livro e de assistir à uma outra apresentação do romance que será levada a cabo pelo seu autor no próximo dia 28 de Setembro na Livraria Centésima Página sita no n.º 118/120 da Avenida Central em Braga. Infelizmente não terei a oportunidade de ir a esta apresentação, mas logo que possa adquirirei o romance em causa, embora não preveja grandes facilidades, uma vez que sendo, como é, uma Edição de Autor, deve ter sido objecto de uma tiragem reduzida.

Descobri também que no 10.º volume (X da 1.ª Série) – 1960, do Arquivo do Alto Minho existente na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, consta um artigo da autoria de Francisco Cyrne de Castro, intitulado “Notícias de Tomás das Quingostas”. Logo que tenha oportunidade irei à bela cidade de Viana procurar este artigo na Biblioteca Municipal, para vos reportar mais algumas coisas sobre o misterioso Tomás.

Outra coisa interessante, embora miúdinha, que descobri, foi que o extinto grupo galego de música Rock, chamado “Os Diplomáticos de Monte-Alto” originário da Coruña e um dos pioneiros e maiores representantes do movimento Bravú, editaram um disco em 1999 designado “Capetón” onde consta uma música intitulada “Tomás das Quingostas”. Lamentavelmente também não consegui detectar nem a música nem sequer a letra, mas dá para perceber que a fama do Tomás chegou mesmo à Coruña!

Os Diplomáticos do Monte-Alto

03/09/07

Notas sobre a toponímia de Castro Laboreiro IV - ANTÕES


ANTÕES [42° 3'20.42"N; 8° 8'29.41"O; Alt: 1061m]:
ANTÕES ou ANTÔNS (na pronúncia castreja) é um topónimo que poderá ter duas possíveis origens:

Poderá tratar-se do aumentativo (plural) de ANTA (monumento megalítico, formado por uma grande pedra horizontal colocada sobre outras mais pequenas e verticais).

Por outro lado o topónimo poderá ter a sua origem no plural de ANTÃO, que era a forma medieval do nome António, o que poderá indiciar que este lugar terá sido fundado por uma pessoa chamada Antão/António e que com o correr dos anos se associou o nome do lugar ao nome do seu fundador e/ou da sua família que seriam os Antões ou seja os descendentes do Antão.

Pessoalmente inclino-me para esta segunda possibilidade, uma vez que embora no planalto a norte dos Antões existam Antas (trata-se mesmo de uma das maiores concentrações de arte megalítica da Europa Ocidental!), julgo que esta palavra “Anta” nunca terá sido usada em Castro. Com efeito estes monumentos megalíticos são ainda hoje designados em Castro por “MOTAS” ou então, no caso de estarem soterradas, por “MAMOAS”.

Os ANTÕES, é uma Branda da margem direita do Rio Laboreiro, sendo que os seus habitantes mudam sazonalmente para as Brandas de Picotim, Açoreira e Corveira, a primeira e a segunda na margem direita do Laboreiro e a terceira na margem esquerda.

Nos ANTÕES existe uma capela dedicada a Nossa Senhora dos Remédios, cuja festa é celebrada no dia 29 de Agosto de cada ano.