29/02/08

O Castelo segundo o Senhor Abade

Fotografia: pela lente

O falecido Padre Aníbal Rodrigues, familiarmente conhecido em Castro como "O Senhor Abade", foi uma figura incontornável no Castro Laboreiro da segunda metade do Séc XX. Entre os seus muitos méritos enquanto homem e sacerdote, o Senhor Abade dedicou-se à elaboração de pequenos Estudos Monográficos sobre o Património Histórico-Cultural de Castro Laboreiro. Claro que quem tiver o subido privilégio de conhecer tais Estudos e possua alguma bagagem cultural, depressa se aperceberá que ao Padre Aníbal onde lhe faltava o rigor metodológico do cientista social lhe sobrava a paixão ardente pela sua terra e pelas suas gentes! Por isso é que, embora os seus Estudos Históricos não possam, em muitos aspectos, ser considerados como trabalhos cientifícos (ao contrário dos trabalhos de outro sacerdote castrejo - O Padre Bernardo Pintor - , nos quais sobreleva o rigor metodológico do historiador), são, apesar disso, pitorescos e curiosos opúsculos, onde o saudoso Senhor Abade exprimiu todo o Amor que sempre teve à sua terra.


Um destes Estudos designa-se "O CASTELO DE CASTRO LABOREIRO" e consta da Separata de ESTUDOS REGIONAIS, Viana do Castelo: Centro de Estudos Regionais. 1996, Vol.17. Neste Estudo encontra-se um poema do Padre Aníbal que, à parte os méritos literários, ilustra à saciedade o que acima se disse. Passo a citar:


«Castelo, pastor Amigo
Das rezes da velha Grei
Deixa-me falar contigo,
Ouvir coisas que eu não sei.

O teu arnês de guerreiro,
Há quanto tempo o não vejo;
Mudaste-o em pegureiro,
Ou deixaste-o n'algum brejo.

Tua cabeça branquinha,
Parece o lírio do campo,
Inclinada à tardinha
à espera do descanso.

A bela lança d'outrora,
Arrogante e combativa,
Já se oxidou por fora,
Por dentro está combalida.

Teu olhar embaciado,
Quem o há-de conhecer?
Parece o sol nublado,
Pouco antes de morrer.

A tua voz de trovão
Sufocou-se na garganta,
Já não comanda o pelotão,
Não se ouve na Infanta.

A tua face enrugada
Não é dum velho Gigante
Que enfrentou a montanha,
Com aspecto arrogante.

A tua flauta tão linda,
Não se ouve como outrora,
No alto da Cartelinda,
Pelas quebradas em fora,
A chamar as ovelhinas,
Ao sol pôr e vir d'aurora.»

Castro Laboreiro, 12/8/1994

22/02/08

O Mundo Longe de Castro Laboreiro



Fotografias: Reuters

Música: Luar na Lubre

Composição: ArthurObrien

Há um triste e belo Mundo, lá fora, Longe de Castro Laboreiro!

Convém não esquecer!

20/02/08

Ter uma terra...

"Ter uma terra quer dizer não estar só, saber que na gente, nas plantas, na terra, há qualquer coisa de nosso, que mesmo que estejamos ausentes espera por nós."

CESARE PAVESE (in: "La luna e il falò" - 1950)

15/02/08

O mais belo castelo português

Vejam aqui uma magnífica apresentação do mais belo castelo português.

O texto que está junto é que não é nada feliz, porque como se explica aqui, o castelo em causa foi tomado cerca de 1141 aos Leoneses e não aos muçulmanos, aliás sempre se diga que, se os muçulmanos alguma vez possuiram tal castelo (o que é muito provável, embora não haja fontes históricas que o atestem) foi muito antes de 1141, pois nessa data a fronteira do Condado Portucalense já se situava bem a sul do Mondego. Com efeito Leiria já tinha sido conquistada em 1135 (embora em 1140 os muçulmanos a tenham atacado e destruído o seu castelo), e Santarém e Lisboa cairiam nas mãos dos portugueses em 1147, embora a primeira tentativa da conquista desta última cidade tenha sido efectuada em 1140.

Mas é o mais belo Castelo português caramba! É ou não é?
Não!? O Palácio da Pena em Sintra é mais bonito!?
Eu não acho! Acho até o Palácio da Pena um bocado "amaricado"!
Seja como for, não podem negar que o castelo de que atrás se fala é a mais bela ruína da arquitectura românica militar portuguesa!

13/02/08

Não foi em 1993

Uma pessoa anónima informou-me, através de um comentário, que as circunstâncias por mim descritas no "post" 1993, nunca poderiam ter sucedido nesse ano, porque a pessoa aí referida já estava casada e já não utilizava o veículo aí indicado.

Com efeito, bem vistas as coisas, cometi um lamentável engano no que concerne ao ano, motivo pelo qual não me resta senão retirar o "post" em causa e apresentar o meu público pedido de desculpas aos familiares da pessoa referida, que merecem, como sempre mereceram, todo o meu respeito e sincera estima.

Espero e desejo que me perdoem.

11/02/08

Uma montanha comprimida

Autor da Fotografia: ANDREAS NEUMMAN

O que eu aprecio em Torga é a força rigorosa e granítica das suas palavras, a sua poesia telúrica e atávica, e sobretudo a extrema beleza construída a partir das palavras nuas, sem qualquer espécie de adorno ou pretensiosismo. Por isso estou constantemente a lê-lo e relê-lo. No outro dia deparei-me com este texto que aqui vos deixo:


«Castro Laboreiro, 6 de Agosto de 1948 — Não, não terei a hipocrisia de dizer que seria aqui o meu paraíso, aqui que não há papel, nem tinta, nem cinema, nem livrarias, nem cafés, nem nenhum dos tóxicos de que necessito. O homem põe, mas a vida dispõe. A cidade é como as prostitutas: o seu amor é falso, mas vence o de qualquer mulher honrada. Agora que são estas pedras, estes gados, estas alturas que vivem recalcadas no meu sangue, não há dúvida. (...)

Mal apanho uma aberta, sou como um galgo pelos montes acima. Não posso dizer o que sinto, nem o que procuro. Mas as pedras parecem-me fofas debaixo dos pés. A parte mais íntima de mim encontra-se e expande-se. Citadino e perdido, sou na verdade uma montanha comprimida.»

Torga, Diário IV



E em vocês? O que é que vive recalcado no vosso sangue?


02/02/08

Kepa Junquera

A este Basco había que o oubir no alto do Castelo de Crastro! Non!?